Opinião

Venezuela, entre a ditadura que segue e a democracia que volta


Uma eventual vitória da oposição ao governo Maduro ainda aguardará seis meses para ser confirmada

Por Ricardo Noblat

Haverá um banho de votos na Venezuela se a oposição à ditadura de Nicolás Maduro ganhar hoje a eleição presidencial com uma larga vantagem. Haverá um banho de sangue caso Maduro perca e não reconheça a derrota de imediato.

Maduro voltou, ontem, a falar em banho de sangue, desta vez ao reunir-se em Caracas com embaixadores de outros países, entre eles o do Brasil. Culpou de antemão o “imperialismo americano” por um eventual banho de sangue e disse:

“Não há possibilidade de que eu não vença. Não poderão evitar o que está no ‘pacto secreto dos livros celestiais’, previsto para o futuro do nosso país. Os piores tempos ficaram para trás.”

Está nas mãos dos militares, sócios de Maduro desde a morte do coronel Hugo Chávez há 11 anos, evitar o banho de sangue. Basta que eles declarem que o presidente eleito, seja qual for, tomará posse. A dúvida é se farão isso.

As pesquisas de intenção de voto apontam o favoritismo do candidato da oposição, o diplomata Edmundo González Urrutia, com 20 pontos percentuais à frente de Maduro. Mas pouca gente em Caracas acredita que isso seja possível.

Contra Urritia, porém, move-se a gigantesca e bem azeitada máquina do chavismo que manda no país há 25 anos em parceria com os militares. Maduro sabe como fraudar uma eleição porque já fraudou mais de uma.

As Forças Armadas venezuelanas contam com cerca de 115 mil militares no serviço ativo e 8 mil na reserva. Dos 34 ministérios do governo Maduro, 12 são dirigidos por militares. Petróleo, mineração e comércio são áreas controladas por eles.

Segundo agências americanas antidrogas, os militares também comandam a narco via de escoamento de cocaína pelo rio Orinoco. Aos olhos do governo dos Estados Unidos, Maduro é suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas.

Por fome, falta de empregos e remédios, 8 milhões de venezuelanos fugiram da Venezuela. Dada às restrições criadas pelo governo, menos de 70 mil deles poderão votar no exterior. O próximo presidente só tomará posse em janeiro.

É nesse vácuo de seis meses que poderá acontecer muita coisa se Maduro não renovar seu mandato. A autoridade máxima eleitoral da Venezuela anunciará o nome do vencedor por volta das 7 horas desta segunda-feira, horário de Brasília.

Ricardo Noblat é jornalista

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