Opinião

Uma tragédia brasileira.

Por Eduardo Fernadez Silva

Não existe país sem tragédia, mas existem países com menos tragédias. Pobre rico Brasil!

AC foi enterrado na sexta feira 18/03/2022. O fato ocorreu no interior, mas poderia ter sido em qualquer dos municípios brasileiros. Trabalhador, ele havia cometido um erro: comprou fios de energia elétrica que haviam sido roubados. Ignorava serem provenientes da fazenda de um ex-prefeito. Que acionou a polícia. Que destacou um grupo. Que invadiu a casa de AC durante a noite, trancou a esposa e filho noutro cômodo e surrou AC. Nenhum do grupo aceitou ver os documentos que mostravam não ser AC a pessoa por quem procuravam. Retiraram AC de casa, levaram-no para o mato e, com cinco tiros, tiraram-lhe a vida, deixando o corpo em frente ao hospital.

Nota publicada no jornal local sequer menciona o nome do morto, como evitei fazê-lo para não aumentar o risco de represálias à família. Informa da ação dos policiais e agrega: tentativa de fuga, troca de tiros e o ferido, que portava revolver e quantidade de maconha no bolso, foi socorrido ao hospital mas não resistiu. Alegação tão frequente quanto não comprovada! Também não houve laudo da medicina legal. Pobre rico Brasil!

AC tinha cerca de 40 anos e seu filho, onze. A tragédia vivida pela família é recorrente neste Brasil, tão rico e tão pobre. São milhares, a cada ano! A prepotência de autoridades, cientes das imensas possibilidades de evadir a justiça, em nada contribui para a construção de um país “melhor”. Pelo contrário. Como superar o ódio gerado por tal injustiça?

A mesma nota do jornal local informa que a ação foi de uma força militar. A internet esclarece que tal força foi criada em 2004, com o objetivo de “garantir a segurança e a proteção do cidadão”. Onde terá ocorrido o desvio que fez a força levar à maior parcela dos cidadãos insegurança e nada de proteção?

Quantos casos semelhantes ocorrem em nosso país a cada ano? A família enlutada se cala, por medo de represálias. Como superar essa opressão que atinge tantas famílias, em tantos locais do Brasil? Esta deveria ser, com toda certeza, pauta prioritária daqueles que defendem a família, mas não tem sido assim. Certo, receptar objetos roubados é crime, mas a punição recebida – sem investigação prévia, muito menos “trânsito em julgado” – não é civilizada. Como construir respostas civilizadas que garantam segurança e proteção ao cidadão? Não o cidadão blindado pelos intrincados e caros mecanismos da justiça, que poder atrasar por anos o “transito em julgado”, mas garantir segurança e proteção à maioria tão pobre neste país tão rico?

Às vésperas de uma eleição, quais propostas apresentam aqueles que pretendem assumir a responsabilidade de nos governar? Mais cadeias, mais armas, mais impunidade para os grandes – como o fazem leis recentemente aprovadas – não é, em bom português, acelerar o caminho rumo à barbárie? É este o caminho para o Brasil?

Eduardo Fernadez Silva – Jornalista

 

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