Opinião

Tic, tac, tic, tac. Quanto tempo falta para que Bolsonaro tente fugir

É a única saída que ele tem para não ser preso

Com seus familiares e amigos de estrita confiança, Bolsonaro tem discutido o que poderá fazer caso o Supremo Tribunal Federal o condene e mande prender pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e danos ao patrimônio público.

De resto, como ter certeza de que o aliado vencerá Lula, candidato a um quarto mandato? Como ter certeza de que ele não o trairá, deixando-o mofar na prisão? Bolsonaro já provou ao longo de sua vida o sabor da traição, inclusive de mulheres, e detestou. Quem gostaria? A política é também uma história de traição.

O tenente-coronel Mauro Cid foi o faz tudo de Bolsonaro enquanto ele governou. Ganhou o cargo por indicação do pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, amigo de Bolsonaro desde a época da Academia Militar de Agulhas Negras nos anos 1970. O Exército, feliz com a eleição de Bolsonaro, chancelou a indicação.

O general ganhou também de Bolsonaro o cargo de diretor do escritório da Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos, em Miami. A agência não é estatal, mas financiada com dinheiro público. De lá, o general, a pedido do filho, meteu-se na venda de joias que Bolsonaro roubou do Estado brasileiro.

Pois não é que o tenente-coronel Mauro Cid contou tudo ou quase tudo o que sabia à Polícia Federal em troca de uma pena mais branda e da exclusão do seu pai de qualquer denúncia? Se não o tivesse feito, Bolsonaro não estaria tão encrencado como está. Encrencado e orientado a não confrontar Mauro Cid.

Bolsonaro disse em 2021 que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória. Foi derrotado, vive e não foi preso. Depois da eleição de Lula, Bolsonaro disse e repetiu que só morto apoiaria outro candidato para disputar a eleição presidencial de 2026. Segue repetindo isso para chantagear os aspirantes ao seu apoio.

A direita torce para que ele não cumpra a palavra. E para que não demore em apoiar outro nome. Só existe um: o do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo. O apoio tem de ser dado sem pressa para não parecer que Bolsonaro cedeu às pressões, nem devagar demais para que não se torne inútil.

A demora excessiva seria mais prejudicial do que a pressa. Não se constrói uma candidatura a posto majoritário da noite para o dia. Dividida, a direita marchará célere para a derrota. Tarcísio pode não saber para onde quer ir. Mas tem feito tudo que está ao seu alcance para agradar a Bolsonaro e atrair seu apoio.

Tic, tac, tic, tac, bate o relógio a contar o tempo que falta para Bolsonaro ser condenado e preso. Ou preso e condenado. Atenção, Alexandre de Moraes: a segunda opção frustraria o plano de fuga.

Ricardo Noblat é jornalista

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