segunda-feira, 7 de abril de 2025

Do leitor

Sou candango

Por João Negrão
 
Sou do barraco de madeira
do telhado de zinco
da palha de bananeira
das tempestades do Planalto Central
das pestes
das resistências à GEP
nada me extermina
me agarro à força do sertanejo – aquele forte
a solidariedade nos une
as folhas de zinco dançam sobre minha cabeça
tenho a paz e a rebeldia insana da chuva
– e seus ventos violentos
e rogo a Santa Bárbara.
me pego com Iansã
sou da lama
como a poeira e lambo os beiços
sou peão de trecho
e tenho meus apetrechos aqui na cintura
costuro a alma com agulha de aroeira
e sopro esse escarro com minha saliva empoeirada
sou eira e não faço questão da beira
minha beirada que era nas margens do Paranoá
hoje é minha quebrada em qualquer lugar do DF.
Sou detrito
sou indescritível
sou imprescritível
sou essa porra toda fora do plano e não me engano
mas sou federal
a parada aqui é dura
é por isto que não posso mais deixar
de falar de Revolução
 
João Negrão – É jornalista, poeta e escritor, atualmente mora em Brasília, militou na imprensa rondonopolitana e mato grossense, nos anos 80/90 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *