Do leitor

Sou candango

Por João Negrão
 
Sou do barraco de madeira
do telhado de zinco
da palha de bananeira
das tempestades do Planalto Central
das pestes
das resistências à GEP
nada me extermina
me agarro à força do sertanejo – aquele forte
a solidariedade nos une
as folhas de zinco dançam sobre minha cabeça
tenho a paz e a rebeldia insana da chuva
– e seus ventos violentos
e rogo a Santa Bárbara.
me pego com Iansã
sou da lama
como a poeira e lambo os beiços
sou peão de trecho
e tenho meus apetrechos aqui na cintura
costuro a alma com agulha de aroeira
e sopro esse escarro com minha saliva empoeirada
sou eira e não faço questão da beira
minha beirada que era nas margens do Paranoá
hoje é minha quebrada em qualquer lugar do DF.
Sou detrito
sou indescritível
sou imprescritível
sou essa porra toda fora do plano e não me engano
mas sou federal
a parada aqui é dura
é por isto que não posso mais deixar
de falar de Revolução
 
João Negrão – É jornalista, poeta e escritor, atualmente mora em Brasília, militou na imprensa rondonopolitana e mato grossense, nos anos 80/90 

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