Sebo Cultural MT, um local do saber

Visitamos a senhora Rosângela Calegnan, natural de Limeira– SP, proprietária da empresa “Sebo Cultural MT”, localizada à avenida Amazonas, nº 716, em frente à escola EEMPO, no centro de Rondonópolis – MT.
Rosângela chegou a Rondonópolis em 2008 a procura de uma lugar para recomeçar a nova vida, porque havia passado por dificuldades. Sua filha já morava na cidade, que veio acompanhando o esposo para trabalhar.
Nossa entrevistada tem formação em turismo e trabalhou em várias frentes comerciais e em venda, entretanto o amor pelo livros veio desse a mais tenra infância.
“Comecei a ler por influência do meu irmão mais velho. Gostava de revista em quadrinhos e leituras nas bibliotecas municipais, até por não ter muito poder aquisitivo”, disse dona Rosângela, que ainda guarda as carteirinhas de algumas bibliotecas.
A empreendedora queria montar um negócio que pudesse gerir e ter uma renda. Começou junto aos camelôs que se situavam na rua João Pessoa, entre a avenida Marechal Rondon e Dom Vunibaldo. Era tudo de madeira. Inicialmente vendia importados, era o ano de 2008. Não se sentia feliz porque não via qualidade nos produtos que revendia e não tinha condições de ir fazer compras no Paraguai para diminuir os custos.
Numa ocasião lembrou do acervo pessoal de livros que tinha em casa e começou a trazer para a banca de importados. Logo passou a vender na mesma paridade os brinquedos e outros acessórios, em relação aos livros, e até fazia gambiras de livros com produtos e a famosa troca de livros. Quando menos percebeu já girava tudo em torno de livros. Tivemos a importante informação de que no sebo, a troca dos livros faz com que enriqueça e aumenta o estoque.
“Cada um que vem até aqui traz um pouquinho de si e leva um pouquinho do outro. A magia de comprar livros em sebo, só quem ama mesmo os livros que sabe o prazer que é garimpar nas prateleiras”, lembra dona Rosângela Calegnan.
Poderia ficar horas ao lado da empresária para aprender mais sobre livros e seus encantamentos, e até vê-la atendendo os clientes que procuravam seus tesouros. Gostei quando ela me verbalizou que, às vezes vamos à procura de um livro, e muitas vezes é o livro que nos encontra.

Em 2011 o empreendimento mudou para a avenida Dom Vunibaldo, próximo a rua Dom Pedro II, ficando até o ano de 2017.
Cada livro tem o seu valor, mas só num sebo que encontramos livros que passaram por diversas mãos, que já encantaram pessoas, com dedicatórias e outros escritos, que dá para ficar imaginando quem os leu, quais e quantas histórias estão ali embutidas, de valores pessoais e imateriais.
Podemos encontrar relíquias, livros antigos, fora de catálogo, edições especiais e até esgotadas, mas também encontramos livros contemporâneos.
Como precificar um livro que chega para troca, é uma pergunta que fiz para nossa interlocutora, e ela disse que tem facilidade para calcular o preço de venda, daí ela incorpora uns 30% e faz o desconto para ofertar ao cliente, que na maioria das vezes uso o crédito para levar novos livros. Na avaliação, também conta o estado de conservação, o estoque daquela obra no seu empreendimento, o gênero literário e outros dados que só ela mesmo entende.
O novo endereço do Sebo Cultural MT, foi mudado a partir de 2017 para a avenida Amazonas até a atualidade. E, foi ali que trocamos algumas ideias sobre cultura e claro, literatura. Ficamos sabendo que os romances têm muita saída, mas notamos que um cliente estava garimpando o Tex e o Zagor, naquele momento da entrevista.
Em 2016 iniciou o processo de sebo virtual e o Sebo Cultural MT participa desde então, e o advento da pandemia do Covid-19 acelerou o processo, quando se considerou a virada de chave das vendas, que no momento atende quase meio a meio a venda física com a eletrônica.
Rosângela disse que se sente muito gratificada pelo interesse daspessoas, e aquilo deixa o seu coração quente. É ali que encontrou o objetivo da sua vida. Porque acha muito importante a democratização da cultura e da leitura. Atingindo mais pessoas que podem adquirir livros por um preço mais acessível. Atende todas as camadas da sociedade, crianças, adultos e idosos. Desde uma grávida que quer lê para seu filho ou até para escolher o seu nome, até aqueles que leem por prazer, provando ser um bom hábito.
“Sou muito grata a essa cidade… Minha filha voltou para São Paulo por problema de saúde e eu fiquei aqui. Tenho dois netos rondonopolitanos. Sinto-me em casa, realizada, isso aqui enche a sua alma”, afirma dona Rosângela.
Investiu o valor da venda da sua casa própria na sua empresa, buscando melhoras para atender e uma melhor localização, porque acredita ser essa premissa o diferencial para o crescimento empresarial. Fica encabulada quando as crianças lhe pergunta se já leu todos os livros ali expostos e ela ri, dizendo que é impossível fazer a leitura de mais de 30.000 títulos.

Machadiano que sou não podia deixar de perguntar sobre outro autor brasileiro. Ela acrescentou Jorge Amado e José de Alencar como os mais procurados, além dos paradidáticos, principalmente nos inícios das aulas escolares. Registrou que o livros de autoajuda, motivacional e evangélicos também são procurados. Quanto aos autores regionais e da cidade não saem como deveriam, mas quando tem eventos na área saem mais.
Cita que o livro traz bons benefícios, memoriza-se melhor, escreve certinho, fala corretamente, mesmo ainda não conhecendo as regras gramaticais, o cérebro vai gravando como se escreve, melhora a caligrafia, o vocabulário aumenta, afirmando que isso é um clichê conhecido, também. Nenhuma leitura é sem importância e todas são necessárias. E, acha que o advento da internet não para essa onda, porque é exatamente o contrário, pois formou mais leitores do que havia antes. Um livro leva a outro, gostando do autor tem indicações de novas obras e novos autores. Um leva ao outro e isso é maravilhoso, concordo plenamente.

“Mergulhar num livro, numa história,faz o tempo passar e até esquece as suas dores. Evaporam-se naquele momento mágico. Sai do mundo exterior e acaba habitando o livro. Isso é fantástico!”, afirma com todas as letras dona Rosângela Calegnan
No futuro, ao se aposentar a livreira pensa em continuar no ramo, e quando achar que não vai dar mais conta, deseja que essa história continue perpetuando para a cidade de Rondonópolis. E que ao substituírem-na se tenha a mesma ou mais paixão que ela pelos livros.

 

 

Hermélio Silva – Formado em Marketing, escritor.

Membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras – ARL,

cadeira nº 06.

Membro do Comitê Nacional de Cerimonial Público – CNCP.

 

 

• Se regulação não der conta, eu acabo, diz Lula sobre bets
• Outubro Rosa na Mainha

Deixe um comentário

Conectado como José Carlos Garcia. Edite seu perfil. Sair? Campos obrigatórios são marcados com *

Comentário *