Opinião

Plataformas digitais sabotam plano para tornar escolas mais seguras

Liberdade de expressão tem limites quando está em jogo a vida de quem quer que seja

 
Getty Images/Reprodução

A disposição das plataformas digitais de colaborar com o poder público no combate à violência contra escolas, professores e alunos é nenhuma. Como nenhuma é a disposição para retirar dos seus canais mensagens de ódio que incitam ao crime.

O Ministério da Justiça e da Segurança Pública pediu ao Twitter a remoção de 431 contas relacionadas ao uso de hashtags ligadas aos ataques contra escolas, e ao TikTok de duas contas. Ainda não foi atendido. É possível que não seja.

O jornal O Globo, que procurou o Twitter a respeito, recebeu como resposta automática um emoji de fezes. No último dia 19, no seu perfil na rede, o diretor executivo do Twitter disse que todas as consultas feitas pela imprensa serão respondidas assim.

Na segunda-feira, dia 10, representantes do Twitter no Brasil, em reunião na sede do ministério, em Brasília, defenderam, entre outras coisas, que um perfil com fotos de assassinos envolvidos em massacres em escolas não fere a política de uso da rede.

A plataforma foi comprada no final do ano passado pelo então homem mais rico do mundo, Elon Musk. Custou-lhe algo como US$ 44 bilhões (cerca de R$ 235 bilhões). Musk é um ícone da extrema-direita americana e partidário de Donald Trump.

Certamente acha que o que é bom para ele também é bom para o Brasil e o resto do mundo onde tem ou possa vir a ter negócios. Musk esteve no Brasil para um encontro com empresários em maio do ano passado. Reuniu-se com Bolsonaro que o definiu assim:

“É um mito da liberdade”.

 
Liberdade para fazer o que quiser e aumentar sua fortuna, às favas todos os escrúpulos. O Ministério da Justiça prepara-se para responsabilizar criminalmente as plataformas que se recusem a colaborar com o programa “Escola Segura”, recém-lançado.

“Não pode haver liberdade de expressão para quem mata ou pretenda matar crianças”, segundo o ministro Flávio Dino. Em Blumenau, Santa Catarina, recentemente um homem matou quatro crianças em uma creche e feriu cinco.

Um adolescente entrou, ontem, armado com uma faca no Colégio Estadual Dr. Marco Aurélio, em Santa Tereza de Goiás, onde ele estuda, e feriu duas colegas. Nas redes sociais está em marcha uma campanha do medo que estimula novos atentados.

Isso tem que parar.

Ricardo Noblat é jornalista

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