Opinião

Os quatro dias que poderão definir a sorte da guerreira da alegria

A hora e a vez de eleger a primeira mulher, e ainda por cima negra, presidente dos Estados Unidos

Por Ricardo Noblat

Não bastará à ex-promotora Kamala Harris sobreviver ao mais duro teste de sua curta, mas bem-sucedida carreira política. A história nos ensina que para se eleger presidente dos Estados Unidos, ela terá que sair muito maior do que entrará na Convenção do Partido Democrata que começa hoje, em Chicago, e que irá até a próxima quinta-feira.

No início de julho de 1992, o democrata Bill Clinton estava perdendo nas pesquisas de intenção de voto para o presidente republicano George Bush. Após a convenção, ele cresceu 16 pontos e acabou se elegendo em novembro. Kamala substituiu o presidente Joe Biden que nas pesquisas perdia para Donald Trump, a quem derrotou em 2020.

A convenção servirá para que ela se reapresente ao eleitor que a conhece como a vice de Biden, mas não como candidata a sucedê-lo. Trump avançou dois pontos percentuais na média das pesquisas quando se compara a véspera da convenção republicana com uma semana após o seu fim. Kamala já lidera as pesquisas, embora por uma margem estreita de votos.

Explica Kyle Kondik, editor da Sabato ‘s Crystall Ball, um dos principais centros de projeção eleitoral dos Estados Unidos, ouvido pela Folha de S. Paulo:

“As convenções funcionam como uma espécie de sessão de motivação para os partidos. São quatro dias em que eles recebem atenção praticamente ininterrupta da mídia para fazer sua propaganda e atacar o outro lado”.

Assim como o Partido Republicano se uniu em torno de Trump, o Democrata deverá se unir em torno de Kamala. Se ela se eleger, será a primeira mulher, e ainda por cima negra, a presidir os Estados Unidos, um país extremamente racista, a exemplo do Brasil. O casal Barack e Michelle Obama, bem como o casal Bill e Hillary Clinton, apoiam Kamala e irão discursar.

O tempo pode ajudar Kamala: quando a convenção acabar, faltará menos de um mês para que os primeiros estados abram a votação por correio. Os primeiros são Minnesota, Dakota do Sul e Virgínia. O voto nos Estados Unidos não é obrigatório. A eleição está marcada para 5 de novembro, uma terça-feira. Trump e Kamala debaterão na TV no dia 10 de setembro

Uma característica de Kamala é o seu sorriso. Ela aparece sempre sorrindo. O sorriso e o bom humor são também a marca do seu candidato a vice, o governador do Estado de Minnesota, Tim Walz. A propaganda da campanha apresenta Kamala e Walz como “os guerreiros da alegria”, em contraposição a Trump, e ao seu vice, o senador J.D. Vance, rotulados de “esquisitões”.

Kamala vem sendo cobrada para detalhar seu programa de governo, algo que ela começou a fazer ao divulgar suas propostas para reduzir o custo de vida. Por ora, ela ainda não tratou de imigração, um tema delicado para o Partido Democrata. O eleitorado está insatisfeito com o fluxo recorde de imigrantes durante o governo Biden.

Ricardo Noblat é jornalista

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