Política

O presidente Joe Biden vive seus últimos dias de candidato à reeleição

A vice Kamala Harris está pronta para o substituir

Por Ricardo Noblat

A mais estranha injeção de ânimo aplicada nas últimas horas no presidente Joe Biden foi a declaração do senador democrata de esquerda Bernie Sanders, seu amigo, publicada na edição mais recente da revista The New Yorker:

“Às vezes, ele se confunde com nomes. Às vezes, ele não junta três frases, é verdade. Mas a realidade é que, por variadas razões, ele é o melhor candidato que os democratas têm. Tirá-lo da chapa faria muito mais mal do que bem”.

Do que se trata? De uma aliança de idosos? Biden tem 81 anos de idade; Sanders, 82. Ocorre que se reeleito em novembro próximo, Biden governaria sem conseguir juntar três frases até completar 85 anos. Seria possível? Daria certo?

A última pá de cal na candidatura de Biden à reeleição está sendo jogada em respeitoso silêncio pela cúpula do Partido Democrata em Washington – a mesma que o apoiou para que vencesse as eleições internas do partido, e que agora o abandona.

Peça tudo a um político, qualquer coisa, menos que ele se deite dentro de um caixão e se disponha a ser enterrado. Ele será capaz de chorar e de ir até a porta do cemitério segurando na alça do caixão de um amigo, mas dali não passará.

A grande imprensa americana, Democrata de raiz, joga um papel importante na deposição de Biden quando clama, a uma só voz, para que ele renuncie à sua candidatura. Nos últimos anos, a imprensa fechou os olhos à decrepitude de Biden.

A Casa Branca protegeu seu ocupante por todos os meios, mas a imprensa colaborou por julgar que só Biden teria condições de derrotar o extremista de direita Donald Trump. O perigo era Trump. De resto, como demover Biden de ser candidato?

Foi o próprio Biden no seu primeiro debate com Trump que apontou o caminho ao fornecer provas chocantes de sua senilidade. Quem assistiu ao debate, não esquecerá. O que Biden disse que não passou de “uma noite ruim”, repetiu-se de dia.

Não bastasse, veio a bala que feriu a orelha direita de Trump e que poderia tê-lo matado. A situação mudou: de encarnação do mal, Trump passou à condição de vítima. Como enfrentá-lo com um candidato pelas tabelas que não junta lé com cré?

Os principais líderes do Partido Democrata já fizeram chegar a Biden a opinião de que ele deve sair do páreo por incapacidade de vencê-lo. E que se não sair, a história haverá de registrar que Biden preferiu baixar à sepultura na companhia do seu partido.

“O Estado, esse sou eu” é uma frase apócrifa atribuída a Luís XIV, Rei da França e de Navarra. Simboliza a monarquia absoluta e o absolutismo. O Partido Democrata não é Biden, como não foi nenhum dos seus antecessores. Espera-se que ele saiba disso.

Com a memória em frangalhos e tendo testado positivo para o Covid-19 pela terceira vez desde que assumiu a presidência, Biden deverá dar passagem à candidatura de sua vice-presidente, Kamala Harris. Será dela a tarefa difícil de bater-se com Trump.

As pesquisas dão Trump como favorito; ele se comporta como se sua vitória fosse certa, mas ainda não é. Faltam quatro meses para as eleições. Aqui e em qualquer lugar, quatro meses na política é muito tempo.

Ricardo Noblat é jornalista

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