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MT: conheça redeiras que mantêm cultura viva e ajudam a complementar renda da família

Em uma comunidade distrital deVárzea Grande, habitam mulheres que, com o talento herdado das mães, confeccionam redes artesanais, mantendo a cultura viva e ajudando a complementar a renda da casa. O local se chama Limpo Grande e nele vivem cerca de 250 famílias.

Uma dessas redeiras é Judith Pereira, de 65 anos. Ela tem quatro filhas e, como manda a tradição, aprendeu a fazer com a mãe dela e ensinou as filhas. Ela contou que, antigamente, a mãe confeccionava o próprio material para a produção das redes.

“Hoje é mais fácil, porque compramos a linha pronta. Quando eu era nova, mamãe plantava algodão, e descaroçava para fazer a linha. Essa linha era esbranquiçada, então, se ela queria fazer linha de outra cor, tirava de casca de madeira, para tingir”, recordou .

Judith, as quatros filhas e os dois netos — Foto: Mariana Mouro

Judith, as quatros filhas e os dois netos — Foto: Mariana Mouro

Hoje, Jucenil Clemente, umas das filhas da dona Judite, também já ensinou a prática para a própria filha. São três gerações, vivendo lado a lado, a cultura e a tradição.

“Acho muito inspirador, porque elas mantêm a tradição. Eu acho que a tradição deveria se manter por muitos e muitos anos”, disse Patrícia Naiara, de 17 anos, filha de Jucenil.

Confecção

Rede confeccionada por uma das filhas de Dona Judith — Foto: Mariana Mouro

Rede confeccionada por uma das filhas de Dona Judith — Foto: Mariana Mouro

As redes são feitas em um instrumento de madeira chamado tear. Nesse objeto, elas passam a linha e, em seguida, começam a render. A próxima parte é tecer, fazer as bordas e, por fim, trançar.

Jucileire Clemente, de 43 anos, que começou a render aos 14, explicou que o processo de confecção de uma rede leva cerca de dois a três meses, dependendo do modelo, dos bordados e arranjos.

“Comecei a fazer peças pequenas, na parte do acabamento, depois fui para parte do bordados e, só a partir dessa parte, comecei a fazer a rede mesmo. É uma tradição linda da nossa comunidade, que aprendemos com a nossa mãe”, contou.

Associação

Rederias associadas — Foto: Mariana Mouro

Rederias associadas — Foto: Mariana Mouro

As redeiras conseguiram criar uma associação em 2022. Segundo a presidente, Jilaine Maria, 50 mulheres fazem parte do grupo e, com o trabalho, ajudam a difundir a cultura na comunidade e em todo país

“O nosso coletivo começou com 15 mulheres, que estavam desacreditadas, pois não conseguiam vender rede. E, desde que começamos, há um impacto positivo na vida das redeiras. Por exemplo, ano passado, vendemos 80 redes”, disse.

Girlaine explicou que, com a criação da associação, as redeiras ficaram mais empolgadas em continuar a trabalhar para manter a tradição viva. “É um desafio muito grande, porque as novas gerações não querem aprender. Então, nossa missão como associação, além de vender, é perpetuar nossa cultura”.

A presidente também disse que uma rede custa em torno de R$ 3 a R$ 4 mil, com esse dinheiro, as associadas conseguem complementar a renda, ajudando dentro de casa.

“Hoje, a maioria das mulheres fazem do trabalho um complemento de renda. Os maridos trabalham fora, e elas ficam em casa fazendo as redes para ajudar a família”, explicou.

 

Empreendedorismo

O gestor estadual de Economia Criativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MT), Felipo Abreu, explicou que o trabalho das redeiras do limpo grande, além de ser uma forma de manter a cultura viva, é um processo empreendedor.

“Esse é um exemplo de como é possível articular em rede a comunidade, transformar o território a partir do fazer e promover esse lugar para outros lugares”, disse.

Felipo também ressaltou como é o processo para quem deseja empreender. Segundo ele, o primeiro passo é buscar o caminho que inspire e motive e, a partir disso, vai ser possível entender quais serão as ferramentas a serem buscadas a seguir.

“Vejo de forma muito positiva, principalmente do ponto de vista empreendedor, que o desenvolvimento de projetos e trabalhos focado na transmissão da memória, na perspectiva do empreendedorismo, não só vai favorecer a comunidade, como vai criar um vínculo ainda maior de pertencimento que, com certeza, vai posicionar a cidade e o território de uma forma diferenciada no mercado”, concluiu.

G1

 Fotos: Mariana Mouro

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