Do leitorGeralOpinião

Inglês com a Madonna

Por Jerry Mill

 

 

 

 

 

 

“Music makes the people come together.”
– Madonna, na canção Music, lançada em 2000.

Depois de 12 anos, Madonna Louise Ciccone esteve novamente no Brasil. Desta vez para protagonizar “um dos maiores shows de todos os tempos” no bairro Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, que se transformou na “maior pista de dança ao ar livre do mundo” ou na “pista mais fervida do planeta”, de acordo com a parte interessada da imprensa brasileira. A diva pop, aos 65 anos, além de mostrar seu arsenal de palavrões em português e inglês, veio encerrar a sua turnê mundial com a última apresentação da The Celebration Tour, a única na América do Sul, para marcar os seus 40 anos de carreira.

Em tempo, para quem não sabe, depois de algumas tentativas no cenário underground, Madonna começou sua carreira solo em 1983, quando lançou seu álbum homônimo e emplacou duas canções: Borderline e Holiday. Nas décadas seguintes, ela produziu muitos outros sucessos, mas também muitas polêmicas, transformando-se numa das personalidades mais influentes no cenário cultural do planeta, dentro e fora da seara musical. Nesse período, além de cantora e compositora, ela se tornou produtora musical, atriz, escritora, dançarina e empresária. Resultado: nessa visita ao Brasil, ela engordou sua conta bancária em mais alguns milhões de dólares e arregimentou mais seguidores para as suas redes sociais.

A “transmissão histórica”, feita pela TV Globo, pelo MultiShow e pelo GloboPlay, além do patrocínio/oferecimento do agora centenário banco Itaú, da cerveja Heineken, da Nivea e da Superbet, contou com alguns comerciais extras na TV aberta, o que deve ter gerado um faturamento considerável para as empresas da família Marinho. Segundo estimativas, cerca de 1,6 milhão de pessoas estiveram no local do show e outros milhões acompanharam a transmissão, ao vivo, também pela Globo Internacional, em dezenas de países. Testemunhas de “um momento para ser lembrado para sempre”, ressaltou a dupla de apresentadores Kenya Sade e Marcos Mion.

Os dois, aliás, mencionaram diversas palavras e expressões da língua inglesa* enquanto estiveram no ar – ou seria ‘on air’? – (em ordem alfabética): em off, fashion, hits, Madonner, mainstream, mashup, punk rock, setlist, sex symbol, singles, spoiler e VIP, dentre outras. E talvez a intervenção mais marcante dos dois ocorreu quando foi citada a canção Like a Prayer, em que a pronúncia de cada um deles para o substantivo em questão ficou evidentemente “diferente”, para não dizer outra coisa, criando uma breve tensão entre eles. Nada que tenha superado, no entanto, o aparecimento/sumiço da intérprete Maria Paula Carvalho durante alguns trechos da atração televisiva daquele sábado à noite e os malabarismos linguísticos que ela teve de fazer ao ter de traduzir (simultaneamente) as insinuações de conotação sexual ditas pela cantora, em alto e bom som, para todo mundo ouvir, como o sugestivo termo ‘blowjob’.

Entretanto, para além das ressalvas (que incluem também peças do vestuário e alguns movimentos libidinosos de dança apresentados durante o espetáculo), o simples fato de gostar da cantora e da sua música pode ser uma boa razão para você dizer (corretamente!) os títulos dos seus álbuns e das suas canções, bem como cantar pelo menos trechos mais comportados dos seus hits. Isso certamente ajuda no processo de ouvir, falar, ler e escrever em língua inglesa. Algo que, certainly, pode ter resultados ainda melhores se as entrevistas concedidas por ela (com ou sem tantos palavrões) puderem ser acessadas e, no melhor dos sentidos, devassadas.
Ficam as dicas, dear reader…

* Para mim, a palavra ‘playback’ ficou subentendida nessa lista.

 

JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis

 

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