Opinião

Homenzinhos patéticos que fazem guerras

Enquanto Netanyahu e Putin praticam o extermínio, um sistema vital pode entrar em colapso e mudar radicalmente partes do planeta

Por Eliane Brum

Vivemos num momento de suprema vergonha para o que normalmente é chamado de “humanidade”. A continuação sem qualquer barreira real do massacre do Governo israelita de Benjamin Netanyahu sobre a população de Gaza expõe a falência das instituições criadas para o mundo pós-Segunda Guerra Mundial. A guerra que a Rússia de Vladimir Putin trava contra a Ucrânia é uma brutalidade que parece ter sido assimilada como normalidade, o que a torna uma brutalidade ainda maior. Mais de metade da população do Sudão necessita de ajuda humanitária devido à guerra civil, mas esta e outras guerras no continente africano são invisíveis nas notícias diárias, apesar de pessoas violarem, torturarem e matarem todos os dias. Ainda assim, é um território familiar, já que a capacidade aparentemente infinita de infligir dor conta em grande parte na jornada humana. O território desconhecido é outro. E tem uma sigla desconhecida: AMOC, Atlantic Southern Overturning Circulation em inglês.

É mais uma variável aterrorizante num planeta que até junho viveu 13 meses consecutivos de temperaturas recordes. Mas mesmo com este panorama, as empresas de combustíveis fósseis, carne, soja, óleo de palma, agroquímicos e minerais continuam a produzir o colapso climático com a cumplicidade de governos e parlamentos. Mesmo com 12 meses em que a temperatura média global esteve 1,64 graus Celsius acima da média pré-industrial, homenzinhos como Netanyahu e Putin travam guerras. Mesmo com um julho com os três dias mais quentes da história, ditadores de esquerda como Nicolás Maduro e Daniel Ortega corrompem a democracia e a extrema direita avança atualizando o fascismo, com Donald Trump no comando.

Alguns homens jogam a guerra sem se aperceberem que nos próximos anos ou décadas poderá já não haver território pelo qual lutar, porque ou foi engolido pelos oceanos ou porque a vida humana se tornou muito difícil ou mesmo impossível. Nunca esteve tão claro que o narcisismo é o irmão siamês da ignorância e quão letal pode ser. Ou começamos a agir politicamente muito rapidamente, participando ativamente nas decisões, fortalecendo a democracia e restaurando o bem comum, apoiando e colocando no poder pessoas capazes de enfrentar os produtores do colapso climático e de produzir adaptação, ou continuaremos reféns destas patéticas homenzinhos e sua compulsão de exterminar, incapazes de ver um mundo além dos fiapos de seu umbigo.

Metrópoles (Transcrito do El País)

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