Opinião

Gaza, à espera da ajuda humanitária que não chega e de ser invadida

De volta a Washington, Biden recebe más notícias

Por RICARDO NOBLAT

A morrer, que não seja de fome ou de sede, melhor que seja de repente, sem tempo de sentir dor. Pessoas dadas por mortas, mas que reviveram, disseram que nos últimos momentos você recorda fragmentos da sua vida e vê uma luz branca e intensa.

Os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, estreito território palestino de 41 quilômetros de comprimento por 6 a 12 de largura, localizado na costa oriental do Mar Mediterrâneo, estão à espera da ajuda humanitária que nunca chega e da invasão israelense.

Mais de 3.700 pessoas foram mortas ali desde o início, em 7 de outubro, dos bombardeios retaliatórios do Exército de Israel, e cerca de 12.500 estão feridas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Do lado de Israel, morreram 1.403 pessoas e há 301 feridos.

Com a abertura da passagem de Rafah sob controle de Israel, a mídia estatal do Egito havia informado que 22 caminhões com ajuda humanitária entrariam em Gaza nesta sexta-feira, o 15º dia da guerra. A CNN informou que a entrega deverá ser adiada.

A falta de acesso à água é um dos maiores desafios em Gaza, alerta a instituição de caridade internacional Action Against Hunger. A ONU estima que haja em Gaza menos de três litros de água por pessoa por dia, e que uma crise de saúde está à beira de explodir.

A invasão da Faixa de Gaza por Israel pode acontecer a qualquer momento. Yoav Gallantn, ministro da Defesa de Israel, visitou tropas acantonadas na fronteira Norte de Israel e anunciou:

“Quem vê Gaza de longe agora verá de dentro. Eu prometo. A ordem virá”.

O ex-primeiro-ministro de Israel Ehud Barak revelou ser provável que “Israel lance um sangrento ataque a Gaza nos próximos dias”. Os militares israelenses já “têm luz verde” do governo para invadirem Gaza, disse Nir Barkat, ministro da Economia.

De volta ao seu país depois de uma visita relâmpago a Israel, o presidente americano, Joe Biden, foi surpreendido por uma série de notícias desconfortáveis para ele. Funcionários públicos comuns reclamam do “apoio cego” dos Estados Unidos a Israel.

Mais de 400 funcionários do Congresso, principalmente judeus e muçulmanos, assinaram uma carta aberta apelando a um cessar-fogo imediato em Gaza. Eles estão “profundamente perturbados” com o tratamento diferenciado dado a Israel e a Gaza.

Funcionários do Departamento de Estado preparam um documento dirigido aos seus chefes criticando a abordagem do governo Biden à guerra de Israel em Gaza. Pela mesma razão, um alto funcionário do Departamento renunciou ao cargo.

Uma nova pesquisa da CBS News, que ouviu 1.878 adultos entre 16 e 19 de outubro, descobriu que 56% dos americanos desaprovam a forma como Biden está lidando com a guerra, e que 53% dos Democratas são contra o envio de armas a Israel

Candidato a um novo mandato e na contramão de parte dos que o apoiam, Biden falou ao país em rede nacional de televisão dizendo que apresentará ao Congresso um pacote de ajuda a Israel que descreveu como um “compromisso sem precedentes”.

Sublinhou a certa altura do discurso:

“O Hamas e Putin representam ameaças diferentes. Mas têm isto em comum: ambos querem aniquilar completamente uma democracia vizinha”.

Hamas é o grupo radical que governa Gaza e deu início à guerra. Vladimir Putin é o presidente da Rússia cujas tropas invadiram a Ucrânia e lutam por um pedaço dela. A “democracia vizinha” é Israel, uma espécie de braço armado americano no Oriente Médio.

Democracia, quantos crimes não são cometidos em seu nome! No Brasil já foram muitos. O que mais provocou danos foi o golpe de 1964, que em defesa da democracia implantou uma ditadura de 21 anos. O mais recente, a tentativa bolsonarista de golpe do 8/1.

Ricardo Noblat é jornalista

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