Do leitor

Do leitor|ESPELHO, ESPELHO MEU…

Por Wilse Arena

A beleza sempre foi tema de reflexão, fonte de inspiração e padrão a ser tomado como referência para homens e mulheres segundo as mais diferentes correntes filosóficas do mundo ocidental, desde a antiguidade grega.

Sempre em busca do equilíbrio e da harmonia Pitágoras estabelecia uma conexão entre matemática e beleza, enquanto, para Platão, a beleza estava na ideia de perfeição. Já Aristóteles cultivava a virtude como o belo.

Durante a Baixa Idade Média (séculos XI-XIII) o belo estava conectado ao divino, ao plano espiritual e às virtudes morais, uma vez que somente Deus era considerado belo e perfeito.

Novo conceito surge durante o Movimento Renascentista e o Humanismo (séculos VIV -XV), quando surge a ideia de um ideal de beleza como um produto da ordem racional e da harmonia das proporções, considerado até hoje como o ideal clássico de beleza humana.

Os iluministas, séculos XVII-XVIII, também não se descuidaram do conceito de beleza, embora o tenham racionalizado como a a “unidade na variedade e variedade na unidade”. O romantismo (séculos XVIII- XIX), por sua vez, inclui a ideia de verdade e de sublime no conceito, sem menosprezar outros entendimentos e conceitos de beleza: “beleza é verdade”. Para os românticos, o conceito de beleza gótica, por exemplo, é somente outra categoria estética de beleza.

Mudanças marcantes no conceito ocorre no período pós-moderno (século XX), culminando na antiestética, embora um dos representantes desse período, Friedrich Nietzsche, defendesse que a vontade de poder era a vontade da beleza.

A partir de então, filósofos importantes como o americano Guy Sircello, ao estabelecer uma relação da beleza com a justiça, traz à baila uma nova teoria da beleza como um conceito filosófico importante a ser considerado. Há uma retomada

no que diz respeito à beleza humana, masculina e feminina, com pequenas diferenças entre os sexos, que teriam atratividade similares e simétricas definidas a partir de uma média aritmética, desde a gestação, de uma série de rostos que possuiria determinadas características. Mulher: branca; magra; cintura extremamente fina; extremamente sexualizada; cabelo longo; bem feminina; heterossexual. Homem: branco; traços definidos; magro/musculoso; masculino; hétero; esportista.

Observa-se que o ideal de beleza, como tudo que diz respeito ao ser humano, também passa por mudanças, mas o que nos interessa destacar é o fato de que esse ideal acaba definindo as relações sociais entre as pessoas cotidianamente e, pior, torna-se parâmetro para o estabelecimento de estigmas e preconceitos em relação àqueles(as) que não se enquadram no padrão estabelecido.

Mas esse ideal de beleza imposto socialmente é só aparentemente inevitável. Nas últimas décadas inúmeras pessoas que não se enquadram nesse ideal passaram a se mobilizar no sentido de denunciar que ele é limitado e preconceituoso. Isso porque pessoas com biotipo que não atendem aos pré-requisitos de beleza estabelecidos, sabe-se lá por quem exatamente, como: gordos demais, magros demais, cadeirantes, portadores de algum tipo de deficiência, negros(as), homossexuais, transexuais, entre tantas outras diferenças, são deixadas à margem da sociedade, quando não agredidas psicológica e fisicamente.

O que dizer de tudo isso? Que conceitos são construtos sociais e, em MUITOS casos, têm implicações negativas na vida das pessoas. É, porque no que diz respeito ao conceito de beleza, as consequências para aqueles que não se enquadram no padrão pré-estabelecido podem ser tão intensas e violentas ao ponto de levar pessoas ao suicídio. Ao menos é o que a realidade tem nos mostrado. Daí a importância dos movimentos sociais voltados para desmistificar o conceito de beleza, incluindo características e qualidades que fogem do padrão dominante, afinal, beleza não tem, ou não deveria ter barreiras, e se TODOS(AS) são filhos(as) de Deus, trazem em si a beleza do Criador, então, devem (deveriam) ser aceitos, respeitados e amados como são!

(*) Wilse Arena da Costa, Profa. Doutora em Educação. Palestrante, Escritora e Membro Fundadora da Academia Rondonopolitana de Letras/MT, Cadeira n° 10. Contato: wilsearena@hotmail.com

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *