Do leitor

Do leitor: CULPA II

Texto de Wilse Arena da Costa

Dia desses, publiquei um artigo falando sobre a culpa que persegue as crianças desde a infância, que pode acarretar problemas na adolescência e como os pais podem auxiliá-las a se libertar dessa culpa por meio de um processo de terapia paralelo. Uma realidade de crianças de classe média e de classe média alta. Nesta oportunidade, quero discorrer sobre crianças pertencentes às camadas

mais vulneráveis da população. Aquelas que, geralmente, convivem amontoados em um barraco com muitos irmãos e irmãs, quando não com outros parentes e sem a presença do pai. Crianças que na adolescência podem ter problemas de adulto que se sobrepõem às questões dessa fase do desenvolvimento (mudanças físicas, psicológicas e sociais).

Em tal ambiente não há espaço para a culpa, mas há muito espaço para a revolta, a raiva, a indignação e, ao mesmo tempo, para a admiração de ídolos não muito convencionais, como o chefe do tráfego.

Como culpar os pais, ou as mães quando seus filhos, antes mesmo da adolescência tornam-se “meliantes”, como são chamados pela polícia? Terapia? Além de não resolver nesses casos, não é uma alternativa para quem mal consegue colocar comida na mesa! Mas, se o filho e a filha se tornarem os queridinhos do chefão, a situação melhora sobremaneira, inclusive no que diz respeito à segurança, alimentação, transporte, atendimento médico, entre outras regalias. Pais ou mães de crianças e adolescentes que se enquadram neste perfil sabem que eles correm risco de vida todos os dias. Mas que chance teriam negando-se a fazer parte deste jogo tão perigoso? Então se calam e entregam para Deus! Poxa, sei que este texto ficou um tanto quanto pesado, mas, infelizmente, é a realidade de muitas crianças que vivem em comunidades onde o tráfico é quem “dá as ordens”.

Claro que tem quem não se submeta e acabam vencendo na vida. De sub emprego em sub emprego, conseguem se formar e conseguir uma vaga de emprego legal, mas são exceções, principalmente, se for negro. Após o exposto, penso que para essas crianças só há uma esperança: que o Estado defina políticas públicas sociais que garantam a todos que mais necessitam o mínimo necessário para que suas crianças possam crescer e se desenvolver com dignidade.

(*) Wilse Arena da Costa, Profa. Doutora em Educação.

Palestrante, Escritora e Membro Fundadora da Academia Rondonopolitana de Letras/MT,

Cadeira n° 10.

 

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