Opinião

Caramelo para senador pelo Rio Grande do Sul – por que não?

O voto de reconhecimento e gratidão, não de protesto

Por Ricardo Noblat

Que tal Caramelo para uma das duas vagas de senador pelo Rio Grande do Sul nas eleições gerais de 2026? Você quer um melhor exemplo da resistência dos gaúchos à tragédia que se abateu sobre o Estado?

Tente se equilibrar na cumieira de uma casa, a poucos metros da água que ameaça afogá-lo, imóvel, sem comer nem beber durante quatro dias… Aconteceu com Caramelo na devastada cidade de Canoas.

Caramelo poderia ter reclamado ou se desesperado, a relinchar, mas não o fez. Se fez, não foi escutado. Com a chegada dos bombeiros que o doparam, poderia ter reagido com selvageria, mas também não fez.

Mansidão, sabedoria ou por que Caramelo intuiu que os bombeiros não lhe fariam mal? Ninguém ainda contou direito a história de Caramelo, embora ele tenha se tornado uma celebridade mundial. Seu perfil está por ser escrito.

Incitado, que em latim quer dizer “Impetuoso”, era o cavalo de corrida preferido do imperador romano Caio César, ou Calígula, nascido em 31 de agosto de 12 d.C e assassinado por sua guarda pretoriana em 24 de janeiro de 41.

Conta a história que Calígula, só para sacanear com seus adversários, incluiu o nome de Incitato no rol dos senadores. O cavalo tinha 18 criados especiais, portava um colar de pedras preciosas e dormia no meio de mantas de cor púrpura.

A cor púrpura era um monopólio da família imperial. Em homenagem a Incitado, dedicaram-lhe uma estátua em tamanho real de mármore com um pedestal em marfim. Custou uma fortuna, mas Roma era muito rica.

Na literatura, graças à William Shakespeare, poeta e dramaturgo, Ricardo III, o último rei da Inglaterra da Dinastia Plantageneta, ficou associado à célebre frase: “Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo”.

Pois eis que em 2012 descobriu-se que a ossada de Ricardo III, morto em 1485, antes de Pedro Álvares Cabral pôr os pés no Brasil, foi enterrada em Leicester, no centro do país, sob muitos cavalos-de-força.

Famoso em Fortaleza entre o final da década de 1910 e início da década de 1920, o bode Ioiô, tomador de cachaça e conhecido pela vida boêmia que levava na companhia de escritores e músicos, foi eleito vereador.

Os paulistas deram mais de 100 mil votos em 1959 para eleger o rinoceronte Cacareco vereador da capital. Em 1987, os eleitores de Vila Velha, no Espírito Santo, elegeram prefeito o mosquito da dengue. Foi o candidato mais votado.

Um chimpanzé de nome Macaco Tião foi o terceiro nome mais votado para vereador na capital do Rio de Janeiro em 1988. Seu slogan foi um achado matador dos responsáveis por sua campanha: “O único candidato que já está preso”.

O voto no bode, no rinoceronte, no mosquito da dengue e no chimpanzé foi um voto de protesto, tão legítimo quanto qualquer outro voto. O voto em Caramelo seria um voto de reconhecimento e gratidão.

O que Caramelo fez pela autoestima dos gaúchos é simplesmente impagável.

Ricardo Noblat é jornalista

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