Do leitor

Batman

Por Hermélio Silva

O meu neto de sete anos brincava num monte de areia que temos no nosso quintal. Isso era comum quando ele nos visitava. Ele tem alguns brinquedos, como pá-carregadeira, caçamba, baldes e outros apetrechos, que já ficam na nossa moradia para esse fim. Como espalha areia por todo espaço, costumeiramente eu varro para que ele não caia, quando gastamos as nossas energias em pega-pega sem fim, que obviamente eu canso primeiro, e passamos para o esconde-esconde, porque eu controlo a procura de acordo com o meu modesto vigor físico, além do que, passar por ele e não encontrá-lo é uma das coisas belas que um vô pode fazer para seu netinho, e ele, sabidamente corre para o ponto combinado e se salva. Faço isso mil vezes, e se precisar farei mais mil.
Cansado do lá-vou-eu e de contar até 30 para iniciar a procura, procuro o sofá para repor a energia, mas o garoto consegue outras brincadeiras que pode atuar sozinho, e eu, fico vendo o futebol de fim de semana na televisão, mas sem perder o monitoramento do meu descendente.
Não é que o menino encontrou um boneco do Batman, enterrado na areia, e veio correndo e feliz me mostrar, dizendo achar que era um brinquedo do seu pai, meu filho de 33 anos, quando criança, que a nossa cachorra enterrou num tempo passado, e que ele foi o sortudo de ter localizado.
Fiz todas as contas possíveis, mas não cheguei a essa confirmação, primeiro que o pai dele passou a infância noutra cidade, uma vez que só tínhamos dez anos de morada na casa atual, segundo que a cachorra citada por ele já tinha nove anos de vida e outras contas mais, mas o meu tino orientou-me a não desmentir e desencantar o meu netinho, apenas abracei-o fortemente e comemoramos com o tapa entre as nossas mãos direitas e depois o encontro dos nossos punhos cerrados, selando uma grande descoberta.
Agora, estou aqui lavando esse brinquedo cheio de terra e olhando para essa cabeçona, que tem o mesmo tamanho do corpo, com a marca da Nestlé nas costas, que vou colocar na terceira gaveta da minha escrivaninha, que é reservada ao meu neto, mas, antes vou expô-lo na minha mesa de trabalho, por alguns dias, com o fito de lembrar da história e recontá-la à quem me visitar, e, a mim mesmo, por quantas vezes a minha vontade permitir, ou seja, umas trocentas vezes.
Obrigado, Bruce Wayne.
Hermélio Silva

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