Geral

ABUNDÂNCIA PARA POUCOS: Mato Grosso tem 10 cabeças de boi por pessoa, mas ‘fila do ossinho’ continua

Para analista político, o problema está na tributação errada vigente no Brasil.

Rebanho bovino bateu recorde em fevereiro de 2022

Mato Grosso atingiu, em fevereiro deste ano, recorde histórico em seu rebanho bovino. São 32.788.192 de cabeças, ou seja, há 10 bovinos por habitante no Estado, cuja população estimada é de 3,2 milhões. No entanto, mais 90% da população não tem acesso a tanta riqueza, que se concentra nas mãos de poucos.

Sem considerar raças mais caras ou o peso dos animais, o RepórterMT fez uma média baseada no valor da arroba do boi gordo em Mato Grosso, que é de R$ 300 a cada arroba (15 quilos). Como cada boi adulto pesa, em média, 450 quilos, a riqueza de um rebanho de 32,7 milhões de cabeças, que está nas mãos dos produtores e outros envolvidos no processo agropecuário, é de R$ 294,3 bilhões.

“É uma situação extremamente difícil e de longa data. O Brasil está entre os países que mais promovem desigualdade e injustiça social. Está entre os 10 mais desiguais do mundo. Eu sempre destaco que existem dois brasis: o Brasil dos privilegiados, que são poucos, no máximo 3% da população; e a grande massa trabalhadora que sustenta essa turma toda”, avalia o professor e analista político, Haroldo Arruda Jr, em entrevista ao RepórterMT.

Para professor Haroldo, os donos das grandes fortunas não podem pagar os mesmos impostos que as pessoas mais pobres. O problema está na tributação errada vigente no Brasil.

“Onde está o problema? Está exatamente na má distribuição da renda. Enquanto não tivermos uma reforma tributária que tribute diretamente a propriedade, os mais ricos, ou seja, quem tem mais paga mais, porque hoje a tributação é em cima do consumo e não da propriedade, não dos bens. Exemplo: peguemos um cara com condição financeira, que lida com o agronegócio, ganha R$ 300 mil por mês, ele vai ao mercado, quando ele compra arroz, feijão, o imposto que ele paga é o mesmo imposto que o ‘Zé da Couve’, que vive de salário mínimo, que ganha R$ 1.1 mil por mês, paga. Você acha isso justo? É obvio que não. Isso está completamente errado!”, afirma.

Reprodução | SBT 

Pessoas fazem fila para receber doação de ossinhos

Na contramão de tanto dinheiro e de lucros cada vez maiores do setor agropecuário, a “Fila dos Ossinhos” em Cuiabá ganhou imensa repercussão por semanas, em todo o Brasil.

Centenas de famílias dormindo na fila de açougues para ganhar o que sobra da carcaça bovina e levar alguma proteína para casa.

Diante da inflação em alta, preços dos combustíveis e da cesta básica muito além da capacidade do salário mínimo, a carne bovina na mesa dos mato-grossenses ficou ainda mais escassa desde 2021, sendo substituída por frango, carne suína e, naturalmente, ovo.

“A pandemia acabou escrachando, desvelando essa desigualdade social no Brasil todo, tanto é que aqui em Mato Grosso nós temos a fila dos ossinhos, temos mais de 100 mil famílias em extrema pobreza e vulnerabilidade. Do outro lado, somos campeões em produção de alimentos. Isso é algo realmente que fica difícil da gente entender. Esse empresário ligado ao agronegócio, que tem muitas condições, que é muito rico, que é milionário, tem que pagar mais imposto do que o ‘Zé da Couve’, que tem a renda muito pequena. Não dá pra ele pagar o mesmo imposto de um cara milionário nos produtos da cesta básica. Só aí você já vê a grande desigualdade”.

Dados

O recorde de 32,7 milhões de cabeças de gado representa um aumento de 1,624 milhão de cabeças no período de um ano. Crescimento baseado em investimentos, tecnologia e sustentabilidade, de acordo com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

No comparativo do mês de novembro de 2021, em relação ao mesmo período do ano anterior, o rebanho cresceu 5,2% em Mato Grosso, segundo o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea). Com isso, o Estado se mantém como líder na produção de carne bovina do Brasil.

Esse aumento abrangeu praticamente todas as 14 regionais do Estado, com exceção da regional de Barra do Garças, que apresentou decréscimo de -0,6%. Já os destaques de maior produção vão para as regionais de Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade que, juntas, detêm mais de 2 milhões de cabeças de gado.

Atualmente, Mato Grosso possui cerca de 24 milhões de hectares destinados ao pasto, o que corresponde a 25% do território do Estado.

Outros 62% do território são áreas preservadas, que correspondem as áreas decresceria legal mantidas pelos produtores, as unidades de conservação e as terras indígenas. As demais áreas são destinadas para outras atividades do agronegócio, como agricultura.

EUZIANY TEODORO/ReporterMT

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *