Opinião

A guerrilha carioca

A guerra tema de hoje é a nossa – 100% brasileira, no momento, barbarizando o Rio de Janeiro.

Por Tânia Fusco

Israel esmagando a Palestina, nesta guerra sem fim que recrudesce a cada cinco anos, ainda segue na prática incontida da barbárie. Mas a guerra tema de hoje é a nossa – 100% brasileira, no momento, barbarizando o Rio de Janeiro.Até o fim do dia de ontem 35 ônibus e um trem foram queimados na zona Oeste do Rio. Cenas explícitas de guerrilha urbana, no modelo Medellín de Pablo Escobar.

A cidade foi parada. Causa? Troco da milícia.

Conta o Globo. “Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, sobrinho do miliciano Zinho, morreu após ser baleado, nesta segunda-feira (23), em uma troca de tiros com a Polícia Civil, na comunidade Três Pontes, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.

Segundo a polícia, Matheus, também conhecido como Teteu e Faustão, era apontado como o número 2 na hierarquia da milícia da região, e era investigado por pelo menos 20 mortes”.

A zona oeste é uma espécie de quartel general das milícias cariocas mais robustas. Lembram da morte dos médicos paulistas num quiosque na beira-mar da Barra da Tijuca?

Pois então. Um dos médicos foi confundido com o filho de um chefe miliciano. Por óbvio, desafeto do mandante do crime. Foi a própria milícia quem apurou, explicou e justiçou – matou os matadores que mataram errado. Tudo resolvido no dia seguinte. Não se fala mais no assunto.

Na delegacia da Barra, onde os crimes deveriam ser investigados, outra boa dezena de assassinatos seguem sem solução. Fica tudo entre amigos – polícia/bandido – que, vez por outra, viram adversários, se separam e se unem. Se matam. E segue o baile.

O governador da vez é um tal de Claudio Castro, saído de um submundo da política carioca (onde sobram submundos). Ontem, voz de bravo, cara de jumento irado, jurou. “Esses três criminosos – Zinho, Tandera e Abelha – não descansaremos enquanto não prendermos eles”.

 

Fez isso com a mesma cara de pau que prometeu investigação “pronta e rigorosa” no caso dos médicos paulistas. A milícia amiga agilizou pra ele.

Ri desalentado quem conhece a velha cena da guerra carioca. Vão tomar de uns pra entregar a outros. Funciona assim.

O Rio de Janeiro é sitiado por milícias e tráfico. Atualmente prevalecendo as milícias. Funciona como um melê que costuma abrigar policiais – da ativa ou não – mais outros bandidos de formação não policial, digamos. Esses não fazem carreira na política.

Para os milicianos, a política carioca e do estado do Rio tem tido braços abertos e olhos bem fechados. Há muitos deles – ou falando por eles – sentados nos bancos de Câmaras Municipais, na Assembleia Legislativa. Costumam ser condecorados. (A família Bolsonaro, por exemplo, adora fazer bandido de mocinho. Com medalha de herói no peito).

Muitos celebram a corriqueira promiscuidade, que enche cofres de campanhas políticas e dá gás a outras lavanderias mais sofisticadas.

A Segurança Pública do Rio de Janeiro agoniza em praça pública desde não se sabe quando…

Todo mundo sabe como funciona, todo mundo vê. Vira filme, série, podcast. Nada muda. Só piora.

Agora no modo Medellín/Pablo Escobar, o Rio de Janeiro engole a guerra de guerrilhas. Como em todas as guerras, as vítimas preferencias são os pobres e periféricos. No caso do Brasil, todos pretos.

Falar sobre isso é escrever no gelo.

Gaza

A Palestina segue sofrendo. E há quem diga que a guerra de agora é contra o Hamas. Só contra o Hamas. Entendeu? As milhares de bombas despejadas sobre Gaza são inteligentes. Identificam e caem só sobre o Hamas.

Falar sobre isso é escrever no gelo.

Recomendo. clnoticias.com.br/palestinos-tratam-israel-por-um-numero-e-nao-pelo-nome-diz-enviada-heloisa-villela/ Jornalismo sobre a (absurda) normalidade da velha guerra de Israel sobre a Palestina.

Los hermanos

A Argentina foi às urnas. E foi Massa. Que siga sendo. Merecemos essa nova alegria.

Desde os 7×1 cara a dentro, que tomamos dos alemães, torço despudoradamente pela seleção Argentina. Camisa azul e branca. Modesta homenagem ao pequeno grande Maradona. E aos hermanos que são de luta. Venceremos.

Tânia Fusco, jornalista

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