Do leitor

Do Leitor: PROVOCAÇÕES

Texto de Wilse Arena da Costa

Antônio Abujamra (1932), um premiado diretor de teatro, ator e apresentador brasileiro, conhecido por sua irreverência, suas encenações e por seu humor ácido e crítico em relação aos tabus sociais, apresentou, por 15 anos, o programa “Provocações” na TV Cultura. Um programa de entrevistas em que, como o próprio nome já adianta, ele provoca grandes personalidades, de diferentes matizes teóricas e confissões ideológicas, sobre questões ligadas à sociedade e à existência e à vida.

O modo como Abujamra apresentava as questões a seus convidados, intercalando com apresentação de poemas e poesias, era sui generis. Com o seu falecimento, em 2015, o programa suspenso e só retomado em 2019, nos mesmos moldes, tendo à frente Marcelo Tas, apresentador, ator, roteirista, diretor e escritor.

Para quem gosta de ir “além das aparências”, vale a pena assistir às entrevistas, porque a gente, como telespectador, também se sente provocado a pensar sobre os temas propostos e isso contribui para que sejamos capazes de perceber a realidade com um olhar mais crítico e, consequentemente, nos tornarmos menos fundamentalistas e suscetíveis a manipulações ideológicas.

Interessa-me, aqui, registrar que sempre que assisto ao programa supramencionado lembro-me de Rubem Azevedo Alves (1933), um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro, autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.

Mas por que me lembro de Rubem Alves, que, infelizmente, também nos deixou em 2014, ao assistir ao programa “Provocações”? Porque ele afirmava que a missão do professor é “provocar a inteligência, é provocar o espanto, é provocar a curiosidade, criar a alegria de pensar”. Ou seja, de nada adianta “passar” conteúdos para os educandos, SE os mesmos não instigarem sua inteligência para pensarem sobre o assunto, a se espantarem com as descobertas, a despertarem neles a curiosidade para irem aquém e além e a se sentirem felizes por usarem sua capacidade humana de pensar.

No campo da educação, “provocar”, portanto, atua como estímulo pedagógico e, por isso, deve fazer parte do planejamento de ensino dos professores.

Ou, parafraseando Fernando Pessoa, que dispensa apresentações, ao justificar o porquê ele escreve: “O professor não deve ministrar aulas para agradar nem para desagradar. Deve ministrar aulas para desassossegar”

(*)Wilse Arena da Costa, Profa. Doutora em Educação. Palestrante, Escritora e Membro Fundadora da Academia Rondonopolitana de Letras/MT, Cadeira n° 10.

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