Opinião

A falta que fará Francisco a todos os homens de boa vontade

O que anunciará em breve a fumaça branca do Vaticano

Foi no início dos anos 1970 que ouvi de dom Hélder Câmara a história que passo a contar. Como bispo auxiliar do Rio de Janeiro na década de 50, ele servira de guia a Giovanni Battista Montini, à época arcebispo de Milão, na Itália, em visita às favelas do Rio.

Os dois tornaram-se amigos à primeira vista. Montini, em junho de 1963, elegeu-se Papa com o nome de Paulo VI, sucedendo a João XXII, que sucedera a Pio XII. Dom Hélder, em março de 1964, foi promovido por Montini a arcebispo de Olinda e Recife.

Em uma de suas visitas anuais a Roma, dom Hélder foi recebido por Montini no Vaticano. E, em meio a uma conversa sem testemunhas, o arcebispo ousou sugerir ao Papa:

– Por que viver cercado de tantas riquezas, Santidade? Por que não vende grande parte do patrimônio da Igreja e vai morar em meio aos pobres?

Montini apertou-lhe as mãos em um gesto de carinho e respondeu:

– Como eu gostaria de fazer isso, como gostaria. Mas, não posso, meu irmão, não posso.

João Paulo I, o Papa Sorriso, sucedeu a Paulo VI em agosto de 1978, morrendo 33 dias depois. João Paulo II, o Papa polonês, governou a Igreja até 2005. Bento XVI, o primeiro Papa alemão, renunciou ao cargo em fevereiro de 2013, alegando o peso da idade.

Em 16 de março, três dias após a sua eleição, o argentino Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco e se dizia o Papa “do fim do mundo”, dada à distância entre Roma e Buenos Ayres, cunhou uma frase que lembra o diálogo de Hélder com Montini:

– Como gostaria de uma Igreja pobre para os pobres!

A Igreja jamais renunciará à fortuna que acumulou durante séculos. Até onde enxergo, jamais veremos um Papa abandonar a fortaleza do Vaticano para ir morar com os pobres. Mas Francisco foi o que mais se aproximou desse ideal de despojamento.

A paz e o amor aos pobres foi a marca do seu pontificado. Salvo um milagre para quem acredita em Deus e em milagres, o sucessor de Francisco, a levar-se em conta o perfil dos cardeais mais cotados para se eleger Papa, imprimirá um novo rumo à Igreja.

Francisco não realizou grandes reformas porque esbarrou no conservadorismo da Cúria Romana. O mais provável é que a fumaça branca a ser expelida pela chaminé do Vaticano anuncie a eleição de um Papa conservador travestido de moderado.

Rezem por ele.

Ricardo Noblat é jornalista

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