Opinião

A “alta” e a “baixa” política

A “baixa política” busca atender – daí seu nome neste texto! – os interesses do chamado “andar de baixo” da população

Por Eduardo Fernandez Silva

A “alta política” – sempre entre aspas – é aquela praticada pelas altas autoridades. A “baixa política”, também entre aspas, é a que resolveria os problemas da população “do andar de baixo”, a maioria da população.

Anunciados os resultados da última eleição, os praticantes da “alta política” começam a se organizar para ampliarem suas chances no próximo pleito. Para eles, efetuar as alianças “corretas” é muito importante para que possam ganhar ainda mais no próximo governo, desde o municipal ao nacional! Anunciados os resultados da última eleição, aqueles que gostariam que fosse praticada a “baixa política” se perguntam quanto tempo levarão os eleitos para descumprir as promessas feitas.

A “alta política” mexe e remexe com o câmbio, com os juros, define e redefine como extrair dinheiro dos “outros”, inventa maneiras variadas de não pagar impostos, aloca e realoca recursos públicos de forma a garantir seus interesses. Ela desenha e redesenha fronteiras e faz guerras, nais quais seus integrantes nunca lutam nem morrem; quem sofre e morre são os “do andar de baixo”.

Os praticantes da “alta política” controlam os meios de comunicação – não 100%, mas muito! – e criam estórias para convencer os excluídos desse “alto jogo” que o caminho está certo e o futuro será melhor! Não convencem todos, mas ganham mentes e votos de parcela importante da população. Disputam entre si cargos, eletivos ou não, e papagueiam esta limitada disputa como prova da democracia vigente.

A “baixa política” busca atender – daí seu nome neste texto! – os interesses do chamado “andar de baixo” da população: ouve e acata suas prioridades; objetiva melhorias na qualidade de vida dessa maioria, avalia e adota meios eficazes de alcançá-las. Não troca uma rede de esgotos por um estádio de futebol, não prefere uma pista para automóveis à melhoria do transporte público, não faz da educação e da saúde moeda de troca para acomodar amigos. A “baixa política” não é contra o lucro, mas não o coloca acima das necessidades da população, deixando alguns lucrarem fabricando e vendendo armas de destruição em massa como são os SUVs, os “alimentos” venenosos nos mercados, os combustíveis que destroem a habitabilidade da nossa casa.

A “alta política” é assim chamada por atender os interesses de poucos. A “baixa política”, neste texto, se refere a políticas que atendem aos interesses da maioria.

Para que estas últimas sejam desenhadas, implantadas e gerem resultados, há que substituir o restrito e exclusivo jogo dos praticantes da “alta política” por meios realmente democráticos. Para tanto, previamente a eleições, há que discutir propostas de solução de problemas concretos, e não nomes de candidatos, sem explicitar quais interesses estes representam.

Na agenda deste ano, no Congresso brasileiro, há propostas de mudanças nas regras eleitorais que, se aprovadas, fortalecem o jogo da “alta política”. Entre elas, unificar as eleições, na prática reduzindo a frequência com que se ouve a população, quando seria melhor fazer mais consultas, múltiplos plebiscitos para decidir os mais diversos assuntos!

Tristes trópicos!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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