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BETS: CDL alerta para impactos dos jogos online na queda do poder de compra e risco de endividamento

Entidade manifestou preocupação com pulverização de plataformas de cassinos e apostas esportivas

Cerca de um mês após a regulamentação federal de plataformas de jogos online – as chamadas bets- a Câmara de Dirigentes Lojistas de Rondonópolis (CDL) segue acompanhando com preocupação a pulverização de plataformas de cassinos e apostas esportivas em todo o território nacional e seus possíveis impactos na redução do poder de compra e aumento do endividamento das famílias, em especial das classes C, D e E. Setores como o do comércio e serviços tendem a ser os primeiros prejudicados em cenários de inadimplência crescente e renda familiar comprometida.

Localmente, a CDL está atenta ao momento de oscilação do setor lojista, na expectativa por aumento nas vendas neste período de final de ano. “Sabemos que a nossa crise econômica, ainda por conta da pandemia e das incertezas políticas, perdura. Nosso comércio tem batalhado, aproveitado datas comemorativas, se capacitado. Tudo para gerar movimento, impulsionar os negócios e estimular o consumo. Mas é preocupante saber que parte da renda das famílias, hoje, é perdida nestas plataformas online, que em nada geram riqueza para a nossa comunidade. São, em sua maioria, plataformas estrangeiras que agora estão regulamentadas em território nacional e que, infelizmente, seduzem parte da população com a promessa de retorno financeiro rápido e fácil”, diz o presidente da CDL de Rondonópolis, dr. Leonardo Santos de Resende. “São caça-níqueis travestidos de entretenimento inocente. Para muitos, pode ser perigoso”, completa.

Nacional

 Em nível Brasil, outras entidades representativas também já se manifestaram. Um levantamento produzido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indica que as bets, como ficaram conhecidas as plataformas virtuais de apostas esportivas, podem gerar um prejuízo anual de R$ 117 bilhões aos estabelecimentos comerciais do país.

Os resultados do estudo, divulgados na última semana de setembro deste ano, mostram ainda que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets. O montante representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e 0,95% do consumo total no período.

“Cada venda que se perde no varejo, custa mais que a própria venda. Porque existem custos fixos que não mudam. Se você estava acostumado a faturar R$ 1.000 por semana e, de repente, começa a faturar R$ 500 por semana, o impacto é maior que R$ 500. O seu quadro de funcionário, o seu estoque, todo o seu custo de capital de giro está programado para um volume de vendas. O que nós calculamos é que há uma perda potencial de R$ 117 bilhões ao ano se continuar com essa escalada de gastos com apostas”, explicou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em entrevista à Agência Brasil no dia 24 de setembro.

O estudo tomou por base o Balanço de Pagamentos, por meio do qual o Banco Central registra operações realizadas no país. “Na série de dados oficial, você consegue achar essa parte do gasto das famílias com essas bets”, acrescenta Felipe.

Endividamento

 O levantamento também alerta para o fato de que os gastos com as plataformas colocam as famílias em situação de inadimplência, afetando o consumo no varejo. A atuação das bets no Brasil foi autorizada pela Lei Federal 13.756, aprovada em 2018. Desde então, elas cresceram no país e vem investindo alto em publicidade, inclusive patrocinando clubes de futebol. De acordo com Felipe, a maior preocupação envolve as modalidades de cassino online, como por exemplo o Jogo do Tigrinho.

“As plataformas de apostas esportivas passaram a abrigar muitas modalidades de casino online. E uma dificuldade é que a gente consegue levantar o valor das apostas em geral, mas não consegue segregar o que é aposta esportiva e o que é cassino online. Mas olhando para o histórico, antes do Jogo do Tigrinho aquecer, os gastos giravam em torno de R$ 2 bilhões. E com a explosão do casino online, foi para R$ 68 bilhões. Dá pra fazer uma estimativa grosseira de que pelo menos 80% dos gastos com as bets são gastos com alguma modalidade de casino online”, afirma.

Público feminino

 Dados levantados pela CNC com o auxílio da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) também trazem um perfil dos apostadores. Chama atenção que os cassinos online mobilizam um público majoritariamente feminino. Já nas apostas com futebol, principal da modalidade esportiva, são os homens que mais gastam.

De acordo com a CNC, a popularidade do Jogo do Tigrinho com o público feminino é preocupante, porque pode indicar a possibilidade de impactos significativos do ponto de vista social, uma vez que benefícios sociais são pagos preferencialmente para as mulheres.

Outro estudo

 Outro estudo, intitulado “Impactos econômicos: Mercado de apostas online no Brasil”, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que o tempo de consumo de jogos no país aumentou 281% desde 2019. Em 2022, o Brasil alcançou a 10ª posição global em receitas brutas de jogos, totalizando US$ 1,5 bilhão, de acordo com dados de uma das maiores empresas de apostas esportivas on-line do Reino Unido – Entain.

Dado ainda mais preocupante: em setembro de 2024, beneficiários do Bolsa Família já haviam enviado R$ 3 bilhões para bets em um único mês. Foram cerca de 5 milhões de beneficiários do programa social apostando nas plataformas. Pelas contas, a cada R$ 5 transferidos pelo governo para beneficiários do Bolsa Família, aproximadamente R$ 1 é gasto em apostas.

Ainda conforme o estudo, embasado pelos dados da SBVC, 63% do público entrevistado assumiu que teve parte da sua renda comprometida com as apostas online. 23% deixou de comprar roupa, 19% itens de mercado, 14% produtos de higiene e beleza e 11% cuidados com saúde e medicações.

Em média, os brasileiros apostam cerca de R$ 24 bilhões mensalmente no bets. Em um ano, esse valor acumulado atingiria aproximadamente R$ 285 bilhões. Estima-se que 15% (R$ 44 bi) desses valores ficam com as bets, enquanto 85% dos valores são distribuídos entre os apostadores.

Da assessoria

 

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