Política

Uma rotina diária

Era um dia normal. Amanheci animado para a labuta. Já passavam das seis horas da matina. Esfreguei os olhos e iniciei a rotina.
Primeiro passei o café naquela medida especial que trago na minha cabeça, que me foi passada pela minha saudosa mãe, e todos os dias quando faço esse processo me lembro dela ditando a receita em todas as oportunidades que tinha. Coloquei a água na leiteira de alumínio e esperei ferver, e já despejei devagarinho no coador de pano com as colheres de café em pó especial, dentro do bule de alumínio esmaltado.
Ouvi a minha esposa elogiar o cheiro que chegou até ela, e adiantei que o melhor seria juntar o cheiro com o paladar e as broas de milho fofinhas que estavam à mesa. Foi o que fizemos naquele momento inicial do dia, sem igual. Ainda conversamos um pouco sobre as tarefas de cada um, e segui para o meu trabalho.
Numericamente como segunda missão, fui separar a ração para os animais, pois eram atendidos individualmente. Cada um com sua dosagem e tipo. Levou um tempo até atendê-los adequadamente. Acariciei um deles e vi que os outros me olharam como se pedissem o mesmo carinho. Não os dei, porque fazia isso para cada um dos escolhidos, uma vez por dia. Um deles veio roçar minha perna como se fosse um gato caseiro, mas não me comoveu. Ficou sem o carinho naquele dia, pois sou duro nesse assunto.
Os passarinhos demarcavam seus espaços com seus belos e cantos pessoais. Um bem-te-vi cantava ou chorava diferente, porque não era o som tradicional, era lúgubre, um canto menor, triste. Notei que ele estava só, sem a companheira ou companheiro de sempre, e tentei localizá-lo melhor e procurar o outro, mas não fui feliz. Desejei que fosse um momento de separação momentâneo e que logo se reconciliassem ou se encontrassem. Fiquei no desejo naquele dia, porque continuou cantando triste e sozinho por um bom tempo, até não o ver ou ouvi-lo mais. Esqueci dele com o passar do dia.
Agora, era a vez dos peixes. Outro tipo de alimento, agora em bolinhas. Fiz a separação, até parece que eu as contei, pois a precisão da quantidade era achada pelos meus olhos, e não pelo peso, medida ou contagem. Eles ficavam rodando em cardume e às vezes subiam à tona. Quando joguei o alimento foi um furdunço só. Mas, garanto que era muito bonito de se ver.
Fui ao quintal e retirei, uma a uma, as acerolas maduras, as mais avermelhadas. Quando alcançou a quantidade que eu queria, levei-as à pia e lavei-as. Juntei um pouco d’água e coloquei no liquidificador, coei-as, e temperei uma parte com o adoçante predileto para mim, e a outra parte com xilitol para a minha amada esposa. Saboreamos deliciosamente, com alguns cubos de gelo para melhorar a temperatura, a absorção e o apetite, com mais algumas broas, pois já haviam passado algumas horas do café da manhã.
Faltavam umas duas horas para o almoço e resolvi deitar alguns minutos na rede amarrada à varanda, e de lá fiquei olhando os peixes coloridos que eu tinha alimentado pela manhã. Uma coisa muito linda de se ver. Pensei que deveria trocar a água daquele aquário, porque os nossos sete peixinhos precisam de melhor oxigenação. Dali, mesmo da rede dei uma olhada nos nossos três cachorros que estavam próximos ao portão da garagem de frente para a rua do nosso bairro populoso na querida urbe. O movimento dos carros, motos, bicicletas e transeuntes era bom. Coloquei a mão no bolso e senti o meu cartão de plástico da aposentadoria. E, assumi um cochilo reconfortador.

Hermélio Silva – Formado em Marketing, escritor 

Membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras – ARL

cadeira nº 06. 

 

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