Opinião

Inglês no supermercado

Por Jerry Mill

Há quase 20 anos, na reta final de 2004*, foi publicado um artigo meu que tratava do vocabulário da língua inglesa tão presente no dia a dia das pessoas no Brasil através de marcas e produtos comercializados livremente nos supermercados. Na época, tais estabelecimentos eram relativamente poucos, embora uma ou outra rede tivesse diferentes lojas espalhadas pela cidade e arredores.

De lá para cá, o número de supermercados (lojas e redes) aumentou bastante, acompanhando o real crescimento da população da cidade e da região, com o aumento de centenas de milhares de pessoas morando por aqui nessas duas décadas. Resultado: grandes grupos do setor perceberam esse fenômeno e aqui se instalaram ou abriram outras unidades, tamanha a certeza da consequente elevação das taxas de venda e de consumo, bem como dos lucros. Bull’s eyes!

Na verdade, segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), o setor teve mais de um trilhão de reais de faturamento em 2023, o que corresponde a 9,02% do PIB (Produto Interno Bruto) no período. De acordo com os dados coletados, havia 414.663 lojas em todo o país, com cerca de 9 milhões de colaboradores diretos e indiretos para atender 30 milhões de consumidores diariamente.

Supermarket, a propósito, segundo o Longman Dictionary of Contemporary English Online (ldoceonline.com) é “a very large shop that sells food, drinks, and things that people need regularly in their homes”. Ou seja, numa tradução livre: grande loja que vende alimentos, bebidas e coisas que as pessoas precisam com frequência em suas casas.

Nesses locais, das lojas mais abastadas às mais acanhadas, além das marcas, dos produtos e dos serviços, há todo um universo que pode servir para o estudo e a aprendizagem nas mais diversas áreas, inclusive no campo dos language studies. Prova disso, no caso específico da onipresente língua inglesa, é a possibilidade de ter as palavras escritas (nas embalagens, nos cartazes, etc.) ou faladas (por funcionários, clientes, etc.) dentro dos recintos, seja no período da manhã, tarde ou noite – já que algumas lojas ficam abertas por até 15 horas do dia, ou seja, das 7h às 22h – como base/fonte para aprender ou aprimorar o que (não) se sabe da língua de Shakespeare.

No entanto, para quem (ainda?) acha que é uma forçação de barra da minha parte, basta lembrar que a expressão ‘self-service’ (com hífen!) costuma ser mais lembrada e citada pelos nossos concidadãos do que a brasileiríssima ‘autosserviço’ – que alguns conterrâneos fazem questão de dizer que “soa estranho”. Outro exemplo: embora tenha origem no espanhol, a palavra ‘cafetería’ (com acento!) foi primeiro adotada nos Estados Unidos (sem acento e às vezes substituindo, mesmo que erroneamente, uma ‘coffee shop’, uma ‘coffee house’ ou até mesmo um francesíssimo ‘cafe/café’) para só depois desembarcar no Brasil e em outros países. E onde, aliás, os grandes amantes do café (a bebida) podem (ou não) degustar um ou outro cappuccino, mocha ou latte, com ou sem chantilly. Melhor ainda se for durante um English-speaking gathering ou algo do tipo. Presencial, of course!

Preciso dizer mais alguma coisa, dear reader?
*Mais precisamente no dia 6 de novembro de 2004.

 

 

JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis

 

 

 

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