Opinião

A libertação de 4 reféns israelenses custa a vida de 200 palestinos

A nova estrela da guerra: uma bomba de fabricação americana que supostamente só atinge alvos específicos

Por Ricardo Noblat

 

O mundo ocidental não está nem aí se Israel mata de uma vez só mais de 200 palestinos numa operação militar para libertar quatro israelenses feitos reféns pelo grupo Hamas em 7 de outubro do ano passado. Ou melhor: os líderes das maiores potências do mundo ocidental não estão nem aí para o massacre, Israel celebra e os palestinos choram.

Aconteceu, ontem, no campo de refugiados de Nuseirat, no coração da cidade semidestruída de Gaza. Os Estados Unidos, por meio do seu setor de inteligência, ajudaram Israel na operação. Em um comunicado oficial, Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, limitou-se a dizer:

“Os Estados Unidos apoiam todos os esforços para garantir a libertação de reféns ainda detidos pelo Hamas, incluindo cidadãos americanos”.

A vice-presidente Kamala Harris, em discurso no jantar do Partido Democrata em Michigan, no sábado, comentou:

“Felizmente quatro reféns se reuniram com suas famílias esta noite. E lamentamos todas as vidas inocentes que foram perdidas em Gaza, incluindo aqueles tragicamente mortos hoje”.

Um manifestante pró palestino tentou perturbar Harris, que respondeu:

“Trabalhamos para pôr fim a este conflito de uma forma que garanta que Israel esteja seguro, traga para casa todos os reféns, acabe com o sofrimento do povo palestino e garanta que eles possam desfrutar do seu direito à autodeterminação, dignidade e liberdade. É hora de esta guerra acabar.”

Palavras ao vento, como sempre. E o direito de os palestinos terem seu Estado reconhecido? Um dia desses, Biden repetiu que é a favor, mas que isso depende de um entendimento entre os palestinos e Israel. E se não houver entendimento, como não houve até aqui desde que Israel foi criado em terras dos palestinos? Biden não responde.

O conflito entre Israel e os palestinos, que se arrasta desde 1948, não tem data para acabar. O capítulo mais recente, que já dura nove meses, começou quando o Hamas invadiu Israel, matou 1.200 pessoas e fez 250 reféns. Acredita-se que pelo menos 112 deles foram libertados pelo Hamas durante as negociações com Israel.

O número de civis mortos por Israel, a maioria mulheres, crianças e velhos, já passa de 37 mil. O ataque a Nuseirat foi apenas o terceiro resgate bem-sucedido de reféns da atual guerra. As famílias dos reféns saudaram o regresso dos quatro libertados, mas disseram que os militares sozinhos não poderiam trazer de volta todos os cativos. Defendem a suspensão da guerra.

Um porta-voz do Izz ad-Din al-Qassam, as brigadas armadas do Hamas, afirmou que alguns reféns foram mortos durante o ataque de Israel. Os quatro reféns libertados estavam saudáveis. Uma bomba guiada com precisão, a GBU-39, de fabricação americana, é a nova estrela da guerra. Dizem que ela só atinge alvos específicos. Seria uma bomba boazinha e justa.

“A questão é que mesmo usar uma arma menor ou uma arma guiada de precisão não significa que você não mate civis e não significa que todos os seus ataques sejam subitamente legais”, observa Brian Castner, um especialista em armas da Amnistia Internacional. É o que prova o ataque de Israel ao campo de refugiados de Nuseirat.

Vida que segue. Não. Mortandade que segue.

Ricardo Noblat é jornalista

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