Internacional

Golpe também fracassou na Guatemala

Apoio popular e respaldo internacional garantiram a posse

A direita guatemalteca esticou a corda o quanto pode e atrasou a posse do presidente Bernardo Arévalo por nove horas – numa tentativa para que vencesse o prazo legal para a transmissão do cargo. Porém, com o apoio das ruas e de governos e entidades internacionais, o golpe sucumbiu. Arévalo, do Movimento Semente, é o novo presidente da Guatemala.

Foi o ato final de uma peça golpista que tensionou o país desde agosto do ano passado, quando Arévalo surpreendeu e venceu o segundo turno contra a ex-primeira-dama Sandra Torre, alcançando 58% dos votos.

Desde então, setores do Judiciário abandonaram a venda dos olhos e utilizaram a balança como arma, destacando-se Consuelo Porras, chefe do Ministério Público, e o promotor Rafael Curruchiche. Questionaram a legitimidade do Movimento Semente, base de apoio do presidente, tentaram declarar as eleições “nulas e sem efeito”, devido a anomalias nos registros eleitorais que jamais foram comprovadas. Assédio judicial explícito.

A cerimônia estava marcada para as três horas da tarde local. O atraso na posse no último domingo foi regido por uma ordem judicial que suspendeu a bancada do Semente no Congresso. Estes deveriam se declarar independentes para tomar posse, sem a possibilidade de compor a mesa diretora ou comissões.

Enquanto congressistas teciam uma solução, manifestantes chegaram ao Congresso e ao Ministério Público, exigindo que o resultado das urnas fosse respeitado. Em frente ao prédio do Ministério Público, povos indígenas mantinham um protesto que há 105 dias quer garantir a transferência pacífica de poder.

Autoridades presentes, como o vice-presidente Geraldo Alckmin, o Rei Felipe VI de Espanha, Gabriel Boric, presidente do Chile, também pressionaram, assinando uma declaração conjunta liderada pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e seu secretário-geral, Luis Almagro. Às sete e meia, a Suprema Corte do país exigiu que o Congresso deliberasse os mandatos das comissões e elegesse o presidente da casa.

O movimento Semente, a terceira maior legenda do Parlamento, conseguiu costurar um acordo com diferentes grupos e ainda elegeu o deputado Samuel Perez como novo presidente. Foi Perez quem vestiu Arévalo com a faixa e entregou a chave da Constituição. Passava das nove da noite.

Em seu discurso, Arévalo manteve as promessas de campanha: luta contra a corrupção e desenvolvimento econômico para acabar com a exclusão social – 60% da população vive abaixo da linha da pobreza.

O novo presidente evocou uma “nova primavera”, citando os governos de seu pai, Juan José Arévalo e Jacobo Árbenz, entre as décadas de 1940 e 50, quando importantes reformas sociais foram implementadas. Como acontece com governos envolvidos em grande expectativa de transformação, terá pouco tempo para mostrar à população que está no caminho certo.

Marco Miguel

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *