Opinião

A extrema direita continua à espreita

Milícias digitais seguem desacreditando a defesa da democracia

A tentativa de golpe e os crimes do ex-presidente Jair Bolsonaro são nítidos para a bolha progressista. Critica-se a lentidão da Justiça para julgar os peixes grandes e uma ação mais efetiva do governo Lula para enquadrar os militares. Entretanto, pesquisas mostram que essa é uma realidade de nicho. E que a rede de desinformação da extrema direita está funcionando com eficiência.

Bolsonaro teve influência nos atos antidemocráticos do 8/1? Parece uma resposta óbvia, mas, para a pesquisa Quaest, 43% dos entrevistados não enxergam relação entre os criminosos e o ex-presidente. 47% culpam Bolsonaro. A maioria (51%) acredita que os participantes da invasão são radicais e não representam os eleitores de Jair Bolsonaro.

Outro dado da pesquisa. Em um ano, recuou em 5% — de 94% para 89% — a porcentagem de entrevistados que condenam a destruição dos edifícios na Praça dos Três Poderes.

Certa vez ouvi uma bolsonarista dizer a uma amiga que criticava o ex-presidente: “Você está se informando pelos lugares errados. A Globo e os grandes jornais só mentem”. E certamente ela não falava da Jovem Pan. Quem não lembra das campanhas, inclusive com posts do ex-presidente, para que seus apoiadores seguissem apenas seus canais de informação?

A inaceitável fake news do vídeo de conteúdo sexual com o Padre Júlio Lancellotti é mais um exemplo de como as milícias digitais funcionam. Por mais que os veículos apontem as fraudes e mentiras, elas alcançam um número muito menor de pessoas. Há um método comum. Atacar personagens da esquerda com elementos conservadores: relação com a criminalidade, misoginia, sexo etc. E tudo isso com a conveniência ou a omissão das redes sociais. O algoritmo tem partido.

Bolsonaro está inelegível, mas, enquanto o ex-presidente, empresários, militares e políticos envolvidos no 8 de janeiro e nos crimes da pandemia não forem à Justiça, legitimará o discurso da extrema direita que nada foi tão grave assim, e que na verdade não passa do discurso ideológico da esquerda.

Sem passar esses episódios a limpo, a extrema direita continuará à espreita, apenas aguardando um novo Bolsonaro surgir ou o próprio renascer. A anistia de 1979 continua viva e novamente protege criminosos.

Marco Miguel

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