Opinião

Fecha-se o cerco a Bolsonaro. Prisão ou exílio?

Um presidente que corrompeu os militares, associou-se ao vírus matador, tentou comprar a reeleição, dar um golpe e ficou rico

Não foi um governo que tomou posse quando Bolsonaro subiu pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro de 2019, mas uma quadrilha. Um bando de foras da lei. A começar por ele, o mais improvável dos presidentes da República do Brasil.

Em quatro anos de desgoverno, o ex-capitão afastado do Exército por má conduta convocou os brasileiros a se armarem, associou-se à Covid que matou mais de 700 mil pessoas, tentou pelo menos duas vezes dar um golpe, comprou a reeleição, perdeu e ficou rico.

Em troca de apoio para não deixar o poder, o ex-paraquedista de triste memória corrompeu seus ex-companheiros de farda enchendo-lhes os bolsos com dinheiro e militarizando o governo para muito além do que fizeram os generais da ditadura de 64.

Tudo pareceu-lhe possível porque tinha a força ao seu lado e a pretensão de derrotar a esquerda outra vez. Então, interveio nas áreas chaves do aparelho do Estado, nomeando acólitos que só lhe dissessem “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Foi o caso do ministro da Economia que observou em silêncio a derrama de dinheiro para reeleger Bolsonaro. Foi o caso do presidente da Caixa Econômica, um assediador de mulheres, que quase quebrou o banco para ver realizado o sonho do seu líder.

Quem se negou a fazer as vontades dele, Bolsonaro mandou embora. Houve três trocas de comando no Ministério da Justiça, três no Ministério da Defesa, quatro na Polícia Federal, quatro no Ministério da Saúde e cinco no Ministério da Educação.

O general Hamilton Mourão só não foi mandado embora porque, como vice-presidente, não era demissível. Em compensação, e de uma vez, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica foram forçados a pedir demissão, fato inédito em meio ao governo.

Sem saber, o país viveu em perigo de golpe entre agosto de 2022 e janeiro. Com a anuência dos comandantes militares da época, Bolsonaro preparou-se para dar o golpe em 7 de setembro. Não deu diante da resistência férrea do Supremo Tribunal Federal.

O golpe foi remarcado para dezembro, mas novamente esbarrou no Supremo e, desta vez, na falta de união dos membros do Estado Maior do Exército. Todos os generais eram bolsonaristas, todos anti-Lula, mas não necessariamente favoráveis ao golpe.

Restou a Bolsonaro acreditar na máxima de que “o povo unido jamais será vencido” – mesmo que fosse apenas uma parte de uma parte dos que votaram nele. Deu no 8 de janeiro e no espetáculo da destruição de prédios públicos na Praça dos Três Poderes.

Talvez desse no golpe propriamente dito se Lula, ao invés de decretar a intervenção no Distrito Federal como fez, tivesse convocado as Forças Armadas para restabelecer a lei e a ordem ameaçada. Ele poderia tê-lo feito, mas não caiu na armadilha

Peças importantes do golpe que fracassou estão hoje presas – Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, e o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques. Haverá novas prisões.

Mas a pergunta que insiste em ser feita é: quando Bolsonaro será preso? Ou a ele se dará tempo suficiente para que fuja? Uma vez fora do Brasil, haverá quem o sustente sem que ele precise gastar a fortuna que acumulou em mais de 30 anos como político.

Ricardo Noblat é jornalista

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