Opinião

Moro ajuda Bolsonaro a vencer e em silêncio torce por Lula

E nós que tanto acreditamos nele…

 
Orlando Brito

Minha solidariedade aos colegas que acreditaram em tudo o que Sérgio Moro dizia ou soprava enquanto juiz e herói da luta contra a corrupção; depois como ministro da Justiça de Bolsonaro; e uma vez rompido com ele, a quem acusou de ser ladrão, candidato a presidente da República e finalmente senador eleito.

Está sendo muito doloroso vermos Moro, agora, como a nova versão do vigarista padre Kelmon, bancando o conselheiro de Bolsonaro em debates, e disposto a gravar mensagens que possam ajudá-lo a se reeleger. Afinal, só abaixo de Deus, deve estar acima de tudo, até mesmo do Brasil, derrotar Lula.

Nem em conversas reservadas é fácil admitir que ele nos enganou e que nos deixamos enganar, principalmente os mais experientes de nós. Confessar o erro de público e dar a mão à palmatória, só os que se sentem estáveis no emprego é que podem fazê-lo. Nem por isso o gesto deve ser depreciado. Ganhar a vida não está fácil.

Pelo jeito, descobrimos tarde demais que o objetivo número um de Moro sempre foi condenar Lula, tivesse razão ou não para tal. E o objetivo número dois, tornar-se ministro do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro acenou-lhe com a maça quando ainda não fora eleito. E o juiz incorruptível ofereceu-lhe o seu apoio e a sua honra.

Se fosse preciso passar um tempo como ministro da Justiça antes de chegar ao Supremo, taokey. Bolsonaro prometeu-lhe carta branca. E Moro acreditou – ou quis acreditar – que poderia endurecer as leis contra a corrupção com o apoio do candidato que surfava nas águas da Lava Jato. Mais tarde viu que não.

Mas uma vaga no Supremo desprezar quem há de? E Moro, para conquistá-la, passou a ceder a todas as vontades de Bolsonaro. Não teve autonomia, sequer, para nomear uma técnica não remunerada, suspeita de ser independente. Moro só saiu do governo ao se convencer de que caíra no conto do vigário.

Se não tem Supremo, que venha a presidência – e lançou-se à caça dela, batendo preferencialmente em Lula, mas dando estocadas por ressentimento e estratégia política no seu ex-patrão, que o humilhara ameaçando demiti-lo durante uma reunião ministerial. Em janeiro último, Moro escreveu no Twitter:

 
“Assim como Lula, Bolsonaro mente. Nada do que ele fala deve ser levado a sério. Mentiu que era a favor da Lava Jato, mentiu que era contra o Centrão, mentiu sobre vacinas, mentiu sobre a Anvisa e agora mente sobre mim. Não é digno da Presidência.”
Em fevereiro, a propósito da viagem de Bolsonaro à Rússia, escreveu:

“Um trapalhão no Kremlin. Bolsonaro tem a incrível capacidade de estar no lugar errado e na hora errada. Sua inexplicável ida à Rússia neste momento nos antagoniza com todo o Ocidente e é mais um constrangimento para a diplomacia brasileira.”

Dissera antes:

“Está lançado o desafio. Uma nova forma de fazer política está na mesa. Vai abrir as contas dos gabinetes e da rachadinha, Bolsonaro? E você, Lula? Vai abrir as contas das suas palestras e do sítio de Atibaia?”

A volta da ovelha ao rebanho começou a acontecer quando Moro se resignou em disputar uma vaga de senador pelo Paraná, estado bolsonarista por excelência. Então, declarou seu voto em Bolsonaro. Alimenta a esperança de sucedê-lo – ou a Lula. E nem para a mulher confessa que por isso torce para que Lula se eleja.

Ricardo Noblat é Jornalista

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