Opinião

Fake news recorrentes (e óbvias) mostram que precisamos fazer mais para combater à desinformação

Neste A Semana em Fakes, Edgard Matsuki, fala sobre a recorrência de boatos já desmentidos algumas vezes e indaga como poderíamos evitar que tantas fake news batidas fossem compartilhadas na internet.

Talvez pelo assunto “fake news” estar em voga, talvez por estarmos vencendo a batalha (não a guerra) contra as fake news sobre a pandemia, talvez por estarmos na iminência de um relatório na CPI que visa indiciar disseminadores de fake news. O motivo não é claro, mas o fato é que os últimos 7 dias foram relativamente tranquilos em relação à desinformação.

Uma das provas disso está nos dez termos mais buscados no Boatos.org na última semana. Três são relativos a informações reais (Nota fiscal paulista, Bateria de nióbio e Round 6) e sete são de notícias falsas já desmentidas no Boatos.org e em outros sites de checagem (Novas multas, Perigeu, Whatsapp gold, Multas, Bolsonaro, ivermectina e Roger Hodkinson). É justamente sobre esse último grupo que vamos falar. Ou melhor, indagar.

Não é de hoje que grande parte da desinformação que circula na internet é fruto de informação que são, além de falsas, antigas. Vamos destacar três dos exemplos dentre os termos mais buscados da semana.

O primeiro deles envolve o termo WhatsApp Gold. Em 2016, um aplicativo falso do WhatsApp com esse nome foi utilizado por golpistas. Neste período um alerta para “não baixar o aplicativo” circulou na internet. O problema é que, mesmo depois da questão solucionada, a mensagem continuou circulando. Desmentimos essa corrente em 2018. Mas tivemos que “renovar os desmentimos” em 2019, 2020 e 2021 porque as mensagens continuavam, com pequenas variações, circulando.

O segundo envolve supostos novos valores de multas. Por algum motivo, uma “bela alma” resolveu compartilhar que a “indústria das multas” iria começar a cobrar valores exorbitantes a partir de “hoje”. A mensagem com valores completamente errados foi desmentida no Boatos.org pela primeira vez em 2015. Mesmo assim, a mensagem (provavelmente por usar o termo “hoje”)teve que ser desmentida em 2017, 2018 (aqui e aqui)2020 e 2021.

O terceiro envolve uma suposta pesquisa que mostra uma “vitória esmagadora” de Bolsonaro de acordo com institutos de pesquisa. Desde 2017 (antes mesmo das eleições de 2018), pesquisas bombásticas com Bolsonaro com maioria absoluta de votos. Em 2018, o mesmo boato circulou por várias vezes. Em 2020 e, mais recentemente, em 2021, pesquisas com textos similares circularam online.

Os exemplos citados mostram que, infelizmente, desmentir as mesmas notícias diversas vezes, não é suficiente para alguns tipos de desinformação. Nós fazemos a nossa parte: desmentimos a notícia falsa, posicionamos o nosso artigo com a informação correta em boas posições nos buscadores, disponibilizamos em nosso site e incentivamos o compartilhamento da informação correta. O nosso trabalho ajuda, e muito, as pessoas que se propõem a buscar pela informação correta. Porém, é preciso mais.

Aí ficam algumas indagações. 1) Será que é impossível para plataformas brecarem o compartilhamento e/ou o copia e cola de textos “padrão” e batidos? 2) Será que é impossível que se garanta mais possibilidades para internautas verificarem conteúdos duvidosos ou vamos continuar falando em “você que lute”? 3) Porque é mais fácil compartilhar a informação falsa do que pesquisas a informação verdadeira? Enquanto perguntas como essas não forem respondidas, continuaremos recebendo daquele “parente próximo que se acha esperto” correntes insuportáveis e falsas que continuam garantindo engajamento dentro de plataformas.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos dias foram, em ordem crescente, Nota fiscal paulista, Novas multasPerigeu, Bateria de nióbio, Whatsapp goldMultas, Round 6, Bolsonaro, ivermectina e Roger Hodkinson.

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos dias foram, em ordem crescente, sobre a notícia falsa que apontava que o Jorge Paulo Lemann seria dono de uma fábrica de absorventes, que o cantor Thiaguinho havia iniciado um relacionamento com o jogador de vôlei Bruninho, que a Ri Happy estaria dando presentes de Dia das Crianças no WhatsApp, que a União Europeia substituirá vacinas por ivermectina e que Cláudia Raia e Xuxa venderam as mansões por causa de Bolsonaro.

No Twitter, no Facebook e no Instagram, o conteúdo com maior engajamento era o que desmentia que Bolsonaro estaria com 88% na última pesquisa Ibope. Por fim, no Telegram, e no YouTube, o conteúdo mais visto era o desmentia a notícia falsa sobre Jorge Paulo Lemann e Tabata Amaral.

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas. Jornalista formado na Universidade Estadual de Ponta Grossa com experiência em jornais, sites e TV. É editor do site de fact-checking Boatos.org. Trabalha como editor e repórter no Portal EBC e Agência Brasil. Já foi repórter colaborador do UOL no Distrito Federal. Participou do Curso Abril de Jornalismo 2012 e também fez reportagens para revistas da Editora Abril.
Especializações: Experiência internacional (Japão) e conhecimento do cotidiano dos brasileiros no Japão. SEO e técnicas de redação para web. Fact-checking e métricas de Analytics.

 

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