Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

Renault , tanto no Brasil quanto na Romênia (onde é conhecida como Dacia ), sempre foi sinônimo de veículos acessíveis: espaçosos, versáteis, econômicos e baratos. Porém, essa linhagem vem mudando aos poucos com a nova estratégia do grupo, em 2021, chamado de “Renaulution” ,abandonando a ideia de Logan Sandero como carros de volume e pouco refinamento. Em vez disso, o foco agora é em veículos mais caros, menos volumes, porém mais lucrativos. O Kardian marca o início dessa fase no Brasil.

O modelo estreia a nova plataforma modular CMF-B , agora chamada RGMP (Renault Group Modular Platform), permitindo a construção de veículos a combustão com eletrificações. Isso faz parte de um investimento de R$ 2 bilhões na  planta de São José dos Pinhais (PR), onde o Kardian é fabricado, trazendo a nova identidade da marca.

Kardian não visa ser um produto caro, mas sim oferecer um excelente custo-benefício para competir no mercado de SUVs compactos, como o  Volkswagen Nivus e o Fiat Pulse . A versão testada, a Première Edition , topo de linha, custa R$ 132.790, comparável à versão intermediária do Nivus, a Comfortline (R$ 134.390), e à topo do Pulse, a Impetus (R$ 135.490).

VISUAL E DIMENSÕES

Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

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Kardian apresenta um design inovador e inédito globalmente. Na dianteira, a nova identidade visual começa pelo novo  logo moderno da marca. O conjunto óptico é dividido: a parte superior, bem afilada, exibe lanternas em LED com DRL, enquanto mais abaixo ficam os monoblocos dos faróis principais, também em LED. Assim, garante uma melhor iluminação. A grade frontal tem um visual tridimensional em preto brilhante, complementado por um filete que liga as lanternas DRL.

Na traseira, as lanternas em formato de C invertido invadem a tampa do porta-malas, semelhante ao estilo dos SUVs europeus.

Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iGRenault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

Renault Kardian 2025 Luiz Forelli Santana/iG

O design jovem e dinâmico do Kardian é acentuado por vincos e relevos marcantes na carroceria. As linhas da dianteira são mais estreitas e suaves, enquanto nas laterais e traseira o carro se alarga, criando uma sensação de robustez e imponência. Os vincos pronunciados e a curvatura das superfícies conferem ao veículo um aspecto mais cheio e arredondado.

Renault Kardian mede 4,12 metros de comprimento, 1,74 m de largura, 1,54 m de altura e possui uma distância entre eixos de 2,60 m , a melhor da categoria. Anos atrás, o Kardian poderia ser considerado um hatchback, mas sua altura em relação ao solo de 209 mm e bons ângulos de ataque de 20º e saída de 36º demonstram a robustez necessária. Isso reflete como os carros estão ficando cada vez maiores, e os SUVs compactos estão seguindo essa tendência.

Os bons números permitem que a segunda fileira acomode razoavelmente bem pessoas com até 1,75 metros. No entanto, com meus 1,88 metros, sou um parâmetro desafiador para as montadoras. No caso do Kardian , com o banco ajustado para mim (todo recuado), sobrou espaço apenas para movimentar minimamente os pés, pois meus joelhos encostaram totalmente no banco da frente.

Minha cabeça também tocou o teto. Ainda faltou uma saída de ar, embora haja dois carregadores USB-A. O porta-malas não é dos melhores, ficando atrás dos concorrentes: são apenas 358 litros (VDA) contra 370 litros do Pulse e 415 litros do Nivus, o melhor disparado.

MOTORIZAÇÃO E COMO ANDA 

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O SUV compacto oferece, em todas as suas versões, a inédita motorização 1.0 turbo flex de três cilindros com injeção direta, gerando 120/125 cv e 20,4/22,4 kgfm (gasolina/etanol). Esse motor é baseado no 1.3 TCe do Duster , com um cilindro a menos, produzido em parceria com a Mercedes-Benz . Embora não seja o mais potente, possui maior torque máximo.

O 1.3 TCe é bem conhecido e de fácil manutenção. A numeração do diâmetro do cilindro, curso do pistão, variador da fase de admissão e escape, entre outros componentes, são as mesmas. A “cereja do bolo”, que considero essencial para tornar esse conjunto formidável, é o câmbio automatizado de dupla embreagem com seis velocidades.

Como o câmbio trabalha em caixa úmida, a preocupação é mínima. Muitos brasileiros, ao ouvirem a palavra “automatizado”, associam ao Dualogic da Fiat ou ao I-Motion da Volkswagen. No entanto, aqui não há relação, pois trata-se de um câmbio de dupla embreagem, com cada embreagem associada às marchas pares ou ímpares, deixando elas  pré-engatadas. Isso torna a condução do Kardian muito agradável e com as rotações baixas na maioria das vezes, e priorizando o consumo.

Lembrando que esse câmbio já é utilizado na Europa em alguns veículos há anos e não apresentou nenhum problema crônico. Aliás, ele é utilizado no esportivo  Alpine A110, com algumas adaptações para o nosso “brasilzão”.

Na prática, seu desempenho é muito bom. O Kardian apresenta um pequeno atraso devido ao turbolag, que é normal. Embora seja citado, não chega a ser um incômodo tão grande.

Em termos de conforto, o modelo, que possui suspensão McPherson na frente e eixo de torção atrás, não ofereceu uma sensação de suavidade. A suspensão tem uma calibração mais rígida e, dependendo do buraco ou valeta, pode haver impactos e solavancos secos na cabine devido ao fim de curso que senti em algumas situações. As rodas de 17 polegadas com pneus 205/55 dessa versão também contribuem para essa sensação de desconforto em alguns momentos.

Na hora de estacionar, especificamente no modelo que testamos (sem generalizar), ao esterçar o volante para manobrar, ouvi alguns ruídos vindos da barra de direção. Não sei exatamente o que causava esses ruídos. Falando em estacionar, a crítica vai ao desempenho da câmera de ré, que demora cerca de 4 a 5 segundos para ser ativada.

Já na estrada, o Kardian se destaca. O motor leva bem o carro de 1.186 kg, com leveza. Ao pisar no acelerador, as trocas de marchas são rápidas e precisas, interagindo muito bem com o motor. Isso é crucial nas retomadas, algo que o Kardian faz com agilidade, não faltando força quando necessário.

Em velocidades mais altas, o veículo se mostrou estável, sem oscilações causadas pelo fluxo de ar e com pouca rolagem da carroceria. Embora ele não seja tão baixo como o Nivus, que tem 166 mm de altura do solo, a rolagem do veículo é minimamente perceptível – um pouco abaixo do carro da Volkswagen e acima do Fiat Pulse.

Nas curvas, as respostas da direção do Kardian são rápidas e diretas, se comunicando bem com o veículo e a plataforma em geral. Isso gera uma boa dinâmica e segurança em curvas mais fechadas, com o controle de estabilidade atuando de forma sólida nas horas precisas.

Para quem preferir, há a opção de trocas de marchas atrás do volante. Ao segurar por alguns segundos as aletas, ela permanece indefinidamente no modo manual, permitindo o controle quase total. Mesmo assim, não sente trancos nas marchas, o que assegura um prazer de guiá-lo.

Já no desempenho de 0 a 100 km/h, o Kardian , na minha opinião, deixou um pouco a desejar. Com o modo Sport selecionado (dentre os três disponíveis: além do My Sense e Eco) e o ar-condicionado desligado, o SUV compacto fez a marca em 10,6 segundos, contra os 9,9 segundos divulgados. Porém, não está muito longe dos rivais.

CONSUMO

Em termos de consumo, o Kardian também se destaca. Conseguimos 9,9 km/l na cidade com trânsito leve e 11,4 km/l na estrada, bem acima dos números divulgados pelo Inmetro de 9 km/l e 9,7 km/l, respectivamente. A grande ajuda nesse cenário também vem do sistema Start-Stop, que desliga o motor quando o veículo para, por exemplo, em um sinal.

POSIÇÃO DE DIRIGIR E ACABAMENTO

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Renault Kardian , por ser o mais alto da categoria de SUVs compactos, oferece uma posição de dirigir elevada, ideal para quem prefere uma visão mais alta da estrada. O capô mais elevado também contribui para essa sensação de superioridade. A ergonomia é bem planejada, com comandos de fácil acesso e um console central alto, único entre seus concorrentes, que se mostra bastante agradável.

O banco oferece um extenso ajuste de altura, assim como o volante, que possui ajuste de altura e profundidade. Para pessoas mais altas, como eu, pode sentir ser necessário ajustar o banco mais para trás, mesmo com todo ele já recuado, mas com o tempo, a acomodação se torna confortável. O campo de visão poderia ser aprimorado se os vidros laterais fossem um pouco maiores, mas no geral, atende bem às necessidades do motorista.

O acabamento do Kardian inclui plásticos de qualidade razoável tanto no painel quanto na parte superior das portas. Há um charmoso filete de LED nas portas com oito opções de cores disponíveis na versão topo de linha, que adiciona um toque especial à cabine à noite. O painel possui um tecido com costura em laranja, dando um visual mais refinado. No entanto, os encaixes do console central parecem um pouco soltos, situação que se torna perceptível ao dirigir em terrenos irregulares.

O volante tem uma boa empunhadura, embora pudesse ser um pouco mais leve para maior conforto na cidade. Na estrada, o peso adicional se traduz em mais estabilidade e controle, o que é bom. O console central elevado possui um câmbio do tipo joystick, fácil de manusear, além de incluir um carregador por indução e porta-copos removíveis que revelam um compartimento bem escondido.

Um diferencial bem grande nesta categoria é o freio de estacionamento eletrônico, presente a partir da versão intermediária, o que seus rivais dispensam até nas configurações mais caras (exceto o  Pulse Abarth de R$ 151.990).

MULTIMÍDIA E PAINEL DE INSTRUMENTOS

Um dos pontos em que o Kardian mais decepciona é a qualidade e personalização do sistema multimídia e do painel de instrumentos. A tela central elevada de 8 polegadas, herdada do Duster Oroch , não tem uma boa resolução; é possível ver os pixels a olho nu, o que deixa a desejar. Ela responde de forma razoável, mas alguns comandos podem demorar e há poucas opções de personalização. O ponto positivo é a presença de Apple CarPlay e Android Auto sem fio, que funcionam bem e sem travamentos.

A qualidade do som também é bem abaixo da concorrência, com áudio abafado, poucos graves e médios, mesmo com ajustes no máximo.

Um diferencial importante é a presença de quatro câmeras ao redor do veículo, que auxiliam bastante na hora de estacionar. Apesar de não oferecerem uma visão 360°, são bem úteis e algo que os rivais não dispõem.

O painel de instrumentos de 7 polegadas segue a mesma linha do multimídia. A qualidade não é tão boa, mas é superior à da tela central. Ele fornece os dados necessários, mas não é suficiente em alguns aspectos, como a temperatura externa, que aparece na tela central, porém de forma pouco intuitiva.

No evento de lançamento do Kardian , muitos jornalistas reclamaram da ausência de conta-giros, o que pode ser um ponto negativo para alguns consumidores, embora eu pessoalmente não tenha sentido tanta falta.

SEGURANÇA

No teste do Latin NCAP, o Kardian ainda não foi testado, então não há resultado sobre. Mas de cara, o modelo oferece seis airbags de série, algo que o Duster só foi ter na linha 2024 (antes era apenas os frontais obrigatórios). Mas mais do que isso, o Kardian oferece uma gama de auxiliares de segurança e até mais que os concorrentes, como o alerta de ponto cego.

Entre os recursos estão, piloto automático adaptativo que desativa automaticamente abaixo dos 27 km/h, alerta com frenagem de emergência, alerta de distância segura, câmeras já citadas, chave presencial do tipo cartão que ao se aproximar ou distanciar o veículo abre e fecha automaticamente, controle de tração e estabilidade e sistema de monitoramento de pressão dos pneus. Ou seja, ótimos pacotes de seguranças.

RESUMO DA ÓPERA

Kardian  é um veículo completamente diferente do Sandero , sem qualquer semelhança disfarçada. Trata-se de uma proposta nova, alinhada com a plataforma RGMP, que promete trazer outros três veículos já anunciados, oferecendo mais segurança. É, de fato, a nova linha da Renault no Brasil, que busca inovar em relação ao passado da marca.

Em termos gerais, o Kardian apresenta um preço atrativo, motorização eficiente, boa dirigibilidade e equipamentos de segurança adequados. Embora a suspensão tenha deixado a desejar, isso não compromete de forma exmpressiva a experiência geral. A tecnologia embarcada, essa sim está aquém do que é oferecido pelos concorrentes e veículos mais baratos.

Para quem procura um veículo bem completo, com boa motorização, economia de combustível, sistemas de segurança eficientes e não necessita de muito espaço, o Kardian é uma ótima opção pelo preço que vale.

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