Internacional

3 seitas ‘apocalípticas’ que levaram seus membros a suicídio em massa

Há muitos casos trágicos como o que aconteceu recentemente no Quênia, onde dezenas de seguidores de um grupo religioso foram doutrinados para morrer de inanição.


Dezenas de corpos pertencentes a seguidores da Good News International Church foram encontrados em uma vala comum no Quênia — Foto: GETTY IMAGES

Dezenas de corpos pertencentes a seguidores da Good News International Church foram encontrados em uma vala comum no Quênia — Foto: GETTY IMAGES

A descoberta de uma vala comum, no Quênia, com mais de 100 corpos de seguidores de uma seita — que teriam sido doutrinados por seu líder para morrer de inanição e abandonar sua “vida terrena” — revela o poder de pregadores messiânicos.

Infelizmente, essa é uma história que se repetiu inúmeras vezes nas últimas décadas com desfechos assustadores.

A seguir, apresentamos três casos em que pregadores com teorias absurdas do fim do mundo e promessas de salvação levaram seus seguidores ao suicídio coletivo.

O Templo do Povo, Jonestown, Guiana – 1978

Jim Jones tinha um discurso sedutor — Foto: GETTY IMAGES

Jim Jones tinha um discurso sedutor — Foto: GETTY IMAGES

O Templo do Povo foi um grupo religioso fundado nos anos 1950, envolto em mistério e liderado por uma figura marcante: o americano Jim Jones.

O ideal de Jones era criar “um paraíso socialista” no qual não haveria fronteiras de raça ou nacionalidade. Mas esse sonho não se encaixava muito bem em seu país.

Em 1975, Jones convenceu cerca de 900 seguidores a se mudarem para Guiana, ex-colônia britânica vizinha à Venezuela, onde fundou uma comunidade utópica conhecida como Jonestown.

Os membros do templo foram em grande parte atraídos pelo discurso sedutor de Jones. Esse fascínio logo se transformou em lealdade, que mais tarde se converteu em fanatismo.

E terminou em idolatria.

Pouco a pouco, a personalidade de Jones começou a se tornar errática e paranoica.

Em seus longos discursos, ele falava sobre supostas ameaças contra seu “paraíso” por parte da CIA, a agência de inteligência americana, cujos agentes ele acusava de serem “traidores” e “porcos capitalistas”.

Também houve relatos de abusos contra membros da seita. Nas chamadas “noites brancas”, eles simulavam suicídios coletivos.

Na última 'noite branca', Jones ordenou que sua congregação tomasse refresco com cianeto — Foto: GETTY IMAGES

Na última ‘noite branca’, Jones ordenou que sua congregação tomasse refresco com cianeto — Foto: GETTY IMAGES

A informação chegou aos ouvidos do deputado pela Califórnia Leo Ryan, que organizou uma viagem a Jonestown para investigar a situação.

Mas a missão terminou tragicamente quando membros do Templo do Povo atiraram em Ryan e em vários de seus acompanhantes.

Foi então que Jones mandou reunir todos os membros da comunidade, a quem pediu uma “noite branca” final.

“Vamos acabar com isso já. Vamos acabar com esta agonia”, é possível ouvir ele anunciando em gravações obtidas por uma investigação do FBI, a polícia federal americana.

Os membros da congregação, alguns voluntariamente e outros forçados — incluindo 300 crianças e bebês — tomaram um refresco adulterado com cianeto. No total, mais de 900 pessoas morreram.

Algumas pessoas que haviam se escondido sobreviveram. Jones foi encontrado morto com um tiro na cabeça.

O massacre foi registrado como o maior suicídio coletivo da história.

Ramo Davidiano, Waco, Texas – 1993

O Ramo Davidiano era uma seita com sede perto de Waco, no estado americano do Texas, fundada em 1955 e derivada do grupo religioso davidiano da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Em 1981, Vernon Howell, um jovem que vinha de uma família disfuncional e tinha antecedentes criminais por relações sexuais com uma menor de idade, entrou para a seita davidiana.

Estima-se que Koresh teve mais de dez filhos com diferentes mulheres — Foto: GETTY IMAGES

Estima-se que Koresh teve mais de dez filhos com diferentes mulheres — Foto: GETTY IMAGES

Após uma disputa pelo domínio da seita, Howell emergiu como o líder supremo dos davidianos e mudou seu nome para David Koresh, na tentativa de reivindicar sua conexão divina com David, o rei dos judeus, e com Ciro, o Grande, da Pérsia (Koresh significa Ciro em hebraico).

Ele assumiu um papel messiânico, se autodeclarando como o último profeta e afirmando ter recebido o mesmo nível de inspiração de Jesus quando foi batizado.

Seus ensinamentos apocalípticos da Bíblia, incluindo suas interpretações do Livro do Apocalipse e dos Sete Selos, em que previa os eventos que anunciavam o Apocalipse, atraíram muitos seguidores.

Para se preparar para esse apocalipse, Koresh estabeleceu um “Exército de Deus” e começou a acumular um arsenal de armas no complexo davidiano conhecido como Mount Carmel.

Ele também introduziu a ideia de praticar “casamentos espirituais” com inúmeras mulheres da seita de todas as idades. Acredita-se que ele teve mais de dez filhos com elas.

As acusações de abusos sexuais e tráfico de armas levaram o Departamento de Justiça dos EUA a cercar o complexo com 76 agentes com treinamento militar e mandados de busca e prisão.

O cerco durou 51 dias e, apesar das negociações iniciais e da liberação de alguns membros, inclusive menores de idade, no dia 19 de abril as autoridades deram início a uma investida final no complexo.

Eles lançaram gás lacrimogêneo, houve troca de tiros e, algumas horas depois, começou um grande incêndio.

Em questão de minutos, o Mount Carmel foi reduzido a cinzas, e os 79 davidianos que estavam dentro do complexo morreram.

Não foi possível estabelecer a origem do incêndio. Koresh havia morrido antes com um tiro na cabeça, mas tampouco se sabe se foi suicídio ou se alguém o matou.

Embora um relatório oficial tenha concluído que a responsabilidade em última análise pela tragédia era de Koresh e seus seguidores por iniciar o incêndio, as decisões e ações tomadas pelas agências governamentais envolvidas no cerco foram duramente criticadas.

Heaven’s Gate, Rancho Santa Fé, Califórnia – 1997

Marshall Applewhite combinava terminologia de ficção científica com textos bíblicos em suas mensagens — Foto: GETTY IMAGES

Marshall Applewhite combinava terminologia de ficção científica com textos bíblicos em suas mensagens — Foto: GETTY IMAGES

Heaven’s Gate (que pode ser traduzido como “Portão dos Céus”) é considerada uma das primeiras seitas religiosas da era da internet.

Eles usavam a tecnologia digital para difundir suas crenças para um público mais amplo e também como forma de gerar renda.

Foi fundada no início dos anos 1970 por Marshall Applewhite e sua esposa Bonnie Nettles, uma enfermeira que ele conheceu enquanto estava em uma instituição psiquiátrica.

Eles viajaram pelos Estados Unidos recrutando um grupo de seguidores que chamaram de “a tripulação” e acabaram se estabelecendo no sul da Califórnia. Quando Nettles morreu em 1985, Applewhite continuou à frente da congregação.

A filosofia do grupo era uma mistura de princípios da Igreja Presbiteriana e crenças sobre óvnis (sigla usada para designar “objetos voadores não identificados”). Applewhite pregava que ele era o Advento de Cristo, que Deus era um alienígena e que o fim do mundo estava próximo.

Em seus sermões, ele combinava ficção científica com o Antigo Testamento para incitar seus seguidores a “superar suas vibrações genéticas como uma forma de sair de seus veículos para que seus espíritos pudessem ressurgir a bordo de uma nave espacial e alcançar o próximo nível evolutivo acima do ser humano”.

Foi assim que os convenceu a consumir purê de maçã e barbitúricos, acompanhados de doses de vodca.

Desta maneira, suas almas liberadas ascenderiam a uma nave espacial que viajava no rastro do cometa Hale-Bopp, que estava passando pela Terra na época, e que os levaria ao seu novo lar no espaço.

Em 26 de março de 1997, a polícia encontrou os corpos de 39 pessoas — incluindo o de Applewhite — cobertos com mantos de cor púrpura, com sacos plásticos na cabeça e vestidos com moletons preto e branco e tênis Nike.

g1/BBC

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